Confira na integra, entrevista com o capitão Willian Farias

Correio.

O maior capitão que você respeita! Nesta segunda-feira (7), o volante Willian Farias, do Vitória, visitou a redação do CORREIO e, em entrevista exclusiva, falou sobre o título do Campeonato Baiano, bastidores, demissão de Argel Fucks e a cobrança que sofre no futebol. De quebra, aproveitou para fazer uma moral em casa e se declarar para a esposa, Drielly. Ele posou com o pôster do Baianão (baixe o seu aqui) e com a taça. Confere aí!

Willian Farias posa com o pôster do Correio e a taça do Baianão (Foto: Betto Jr)

Você disse que viveu momentos de muita pressão antes das finais. O que foi mais difícil?

Na verdade, o pessoal acha que é só entrar lá no campo e jogar bola, mas não é assim. Tenho uma responsabilidade muito grande, não só como jogador, mas dentro de casa, com a minha família. E a gente ainda tem uma responsabilidade pelo torcedor, porque sabemos o quanto eles sofrem junto. Claro, isso varia de pessoa pra pessoa, mas eu vivo isso aqui muito intensamente. O futebol, o Vitória. Você tem que não somente ir lá e treinar bem para jogar bem. Por mais que tenha problemas, teu semblante tem que estar sempre positivo, sempre sorrindo, porque tem gente dentro do próprio elenco que olha pra você e você precisa estar com essa cara boa. Caso contrário, assimilam isso e levam durante a semana. Quando você se torna uma liderança, tem que saber diferenciar isso.

Que tipo de responsabilidades você, como líder, carrega?
Nessas situações, você precisa cuidar de alguns atletas. Cuidar do Uillian Correia, que não vinha jogando e queria muito jogar logo, aí tem que acalmar ele. Tem que acalmar um Caíque e um Kanu, principalmente nesses momentos que tem os clássicos. Cuidar de um Kieza, que tem temperamento bastante forte. A minha vida no Vitória não é somente ir lá, treinar, me preparar para ir bem nos jogos e fim. A responsabilidade que eu carrego é muito grande.

Você chorou muito ao conquistar o título baiano. O que passou na cabeça naquela hora?
Quando olhei para a minha esposa, me emocionei. Só eu e ela sabemos o que a gente passa, as broncas que ela segura. Eu brinco que ela é a capitã dentro de casa, porque muitas vezes é quem me acalma, me dá uma palavra de incentivo. Esses cinco meses foram muito intensos. Olhar pra ela e saber que o dever foi cumprido me provocou muita emoção. Era algo estipulado. Eu também estipulo as coisas na minha carreira, “quero ser campeão disso e daquilo”. Na hora que você olha para a pessoa que está do teu lado, vê que deu certo, emociona. Foi o que eu disse a ela: “A gente conseguiu”. É algo que ela também almejava na minha carreira.

Capitão não segurou a emoção ao encontrar a esposa Drielly, após a conquista do título (Foto: Reprodução/TV Bahia)

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Ao fim do jogo, você deu a chuteira para um torcedor específico. Quem era?
Primeiro, eu joguei um pé da chuteira para a torcida. Depois, eu saí procurando uma criança. Queria dar a outra para alguma criança, porque criança é inocente, né? O carinho deles é verdadeiro. Eu sempre acredito nisso. Eu até brinquei na hora e disse que a criança não estava entendendo nada, mas acho que o pai vai saber explicar e ele vai entender. Eu acredito muito no carinho deles, nesse amor verdadeiro, nessa sinceridade do carinho deles.

Alguns jogadores disseram que a demissão de Argel Fucks, na semana da final, foi injusta. O que você acha disso?
Eu vou te falar uma coisa de vestiário, que nem deveria estar falando. Não é questão de injusto ou não. A questão é que existe uma hierarquia no clube. Tem gente que manda e tem gente que obedece. As pessoas que mandaram ele embora, a gente tem que obedecer. Meu foco depois do que eles falaram foi pensar só na final do Campeonato Baiano. A gente sabia que era muito difícil e que, emocionalmente, a gente não estaria bem. Nem fisicamente, porque o calendário judia um pouco. Meu foco foi virar a chave. Tá bom, tá mandando embora. Agora, vamos pensar daqui pra frente. A gente tem uma final, Wesley (Carvalho) vai assumir e a gente tem que dar moral pra ele para que ele consiga passar a mensagem que a gente precisa nesse momento e superar desafios que temos nessa final. Se foi justo ou não, a gente obedece. O que a diretoria passa, temos que acatar.

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Mas você concordou com a demissão? Foi contra?
No meu modo de ver, não era o momento, porque a gente precisava dele. Jogaram a responsabilidade no nosso colo, né? Eu comentei com o presidente (Ivã de Almeida) e com o diretor (Sinval Vieira) que o Bahia teve a oportunidade de pisar no nosso pescoço na quarta-feira (primeiro Ba-Vi da final). Eu virei pra eles e perguntei: ‘Vocês sabem disso, né? Eles tiveram a oportunidade de ganhar o Baiano ali. Vocês sabem que correram esse risco, não sabem? Se não sabem, eu estou falando que a gente corria”. Mas eles nos deram a oportunidade de sermos campeões domingo. E eu disse, logo depois do jogo, ainda na Fonte Nova: ‘A gente vai ser campeão. Eles podiam ter matado a gente aqui. A gente vai ser campeão, mas vocês sabem que correram um risco muito grande, né?”.

Vitória foi campeão baiano invicto de 2017 (Foto: Betto JR/CORREIO)

Qual a pior parte de disputar o Campeonato Baiano?
A estrutura, né? Não sou muito de criticar, mas tem pouca estrutura de trabalho. Até para a própria imprensa é escasso. Para a gente, são viagens que muitas vezes não dão para fazer de avião, aí tem que ser de ônibus, o que é desgastante. Então acumula estrutura, muito cansaço, além do nível técnico, dos campos. É difícil. Quando a gente ganhava os jogos, ainda não estava bom. A gente sabia que tinha que melhorar e, mesmo assim, sofríamos uma pressão muito grande de dar espetáculo, porque o time contratou jogadores renomados. Futebol não é só contratação e pessoas que foram campeãs no passado, mas eles também têm que mostrar serviço aqui. Fomos tachados por causa disso, porque foram feitas muitas contratações de peso. Aí gerou a expectativa. “Ah, meu time vai ser assim, vai ser daquele jeito”. Eu não costumo prometer nada. Futebol é dentro de campo. Tem que correr.

E a parte das brigas?
Futebol é muito mais que 11 jogadores que entram em campo e batalham. Existe um desgaste mental muito grande. Passamos por cima de tudo isso. Esse campeonato serviu de lição para todo mundo. Para pessoas que precisam de educação, que precisam se dar ao respeito. O Ba-Vi é um clássico muito grande para essas pequenas coisas de educação e respeito. Claro, muitas vezes as pessoas estão de cabeça quente e extrapolam. A gente entende. Sei que somos exemplo, mas também somos humanos. A gente não está educando todo mundo. Eu costumo falar que a fivela da cinta da minha mãe era bem grande e que lembro dela até hoje (risos). Educação vem de casa. Não sou eu que vou mudar o mundo. O futebol é grande, poderia mudar o mundo, mas as coisas não são bem assim.

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Você tem medo que o título empolgue jogadores e torcedores, a ponto de achar que está tudo bem e não existem defeitos?
Temos uma novidade domingo e temos que ganhar todos os jogos. A gente é cobrado quarta e domingo, e jogador tem que estar preparado para isso. Não adianta ser campeão estadual e fazer uma campanha pífia no Brasileiro e sofrer bastante. Que a gente possa fazer uma campanha equilibrada. O Brasileiro é estranho, porque dá tempo de recuperar, é longo. O tempo vai passando e em agosto ninguém vai pensar no estadual. Não tem por que se empolgar. Fazer melhor campanha do país não vale nada.

O Vitória está pronto para disputar a Série A?
Independente de título ou não, eu acho que podemos melhorar sempre. Nunca chegamos no ideal. Nos jogos, temos falhas e acertos. Muitas vitórias apagam os erros, e a gente sabe disso. Todos precisam pensar em melhorar e acrescentar cada vez mais.

Já se considera ídolo no Vitória?
É difícil falar. Eu recebo mais palavras de elogio, de incentivo de pessoas que realmente gostam de mim, do que críticas. Mas quando perdemos o Ba-Vi, os caras queriam me matar. Dentro do clube, me chamam de capita. Talvez não seja um ídolo, mas creio que uma influência boa. Acho que devo passar isso, pela minha imagem e atitude. O pessoal se identifica bastante.

Você chegou a oito estaduais, o segundo na Bahia. É muito diferente de ganhar em Minas (Cruzeiro) e Paraná (Coritiba)?
Não muito. Na verdade, não é a cidade que se adapta a nós. A gente é que abraça a cidade. Me identifico bastante com Salvador. É engraçado, porque lá em Minas eu falava bem diferente do que falo aqui. A gente vai pegando algumas coisas. Pelo momento que estou vivendo aqui, acho que já sou um pouco Vitória e um baiano.