O candidato do PSDB à Presidência da República Aécio Neves disse neste domingo, após a confirmação de que chegou ao segundo turno das eleições, que é o momento de unir forças para encampar o “sentimento de mudança” verificado nas manifestações de junho de 2013. A declaração do tucano é o aceno mais claro em busca de uma parceria com a ex-senadora Marina Silva (PSB), que terminou a corrida presidencial na terceira colocação. “É hora de unirmos as forças. A minha candidatura não é mais a candidatura de um partido político ou de um conjunto de alianças. É o sentimento mais puro de todos os brasileiros que ainda têm a capacidade de se indignar, mas principalmente a capacidade de sonhar. Vamos acreditar que é possível, como sempre acreditei, dar ao Brasil um governo que una decência e eficiência”, disse. Para o tucano, seu desempenho eleitoral na casa dos 33% revelou “números muito acima das melhores expectativas”.
Interlocutores do PSDB já começaram a procurar integrantes do PSB para negociar o apoio de Marina Silva no segundo turno. Em outra frente, tucanos avaliam a possibilidade de recorrer diretamente à viúva de Eduardo Campos, Renata Campos. “Todos aqueles que puderem e quiserem contribuir com esse projeto de mudança são muito bem-vindos. Tenho enorme respeito pessoal pela ex-ministra e senadora Marina Silva, mas tanto em relação a ela quanto em relação a outras lideranças, é preciso que aguardemos que cada um tome o caminho que achar mais adequado”, afirmou Aécio, que após a divulgação do resultado das urnas homenageou o ex-governador Eduardo Campos, morto em um acidente aéreo em agosto, e agradeceu políticos e familiares que o acompanharam na campanha.
Estados estratégicos — O alto patamar de votos de Aécio Neves, não projetado nem pelos aliados mais otimistas, se deve em grande medida ao desempenho do tucano entre eleitores de São Paulo, que deram a ele mais de 4 milhões de votos de vantagem em relação à presidente-candidata Dilma Rousseff. A cifra evidencia a força do PSDB no Estado e contrasta com o resultado obtido pelo senador em Minas Gerais. Em seu reduto político, Aécio, que no início da campanha projetava pelo menos 3 milhões de votos a mais que a concorrente, conquistou menos votos que Dilma.
O cenário parcialmente desfavorável em Minas Gerais – ele teve cerca de 400.000 votos a menos que Dilma – deve obrigá-lo a uma espécie de imersão em seu Estado natal para tentar reduzir a desvantagem de Dilma e minar o projeto de reeleição da presidente. Na região Nordeste, onde o PT tem um amplo colchão social e o programa Bolsa Família atua como o mais importante cabo eleitoral, Aécio Neves teve, na média, desempenho abaixo da casa dos 20 pontos percentuais. Em meados de agosto, o senador ensaiou fazer um périplo por estados nordestinos, mas as viagens não se reverteram em votos. Ele era – e continua sendo – desconhecido da maior parte do eleitorado.
Na nova fase da campanha eleitoral, caciques tucanos avaliam que Aécio deve focar boa parte da campanha no Rio de Janeiro, onde ficou na terceira colocação e deve tentar captar os mais de 2,5 milhões de votos conquistados por Marina Silva. Agendas em grandes colégios eleitorais como Bahia e Pernambuco, onde o senador também não teve bom desempenho, devem ser privilegiadas.
De imediato, a chegada de Aécio ao segundo turno das eleições presidenciais 12 pontos à frente da ex-senadora Marina Silva (PSB) – as últimas pesquisas apontavam os dois tecnicamente empatados – minimiza o pífio desempenho do tucano Pimenta da Veiga, que perdeu em primeiro turno do petista Fernando Pimentel. Ainda assim, a performance do candidato do PSDB ao Palácio Tiradentes coloca em risco a influência política do senador no estado e pode abalar a formação de palanque para o tucano na disputa pelo segundo turno.
Articuladores da campanha da Dilma Rousseff já projetam que parte dos apoiadores de Marina Silva no primeiro turno pode migrar pra o leque de aliados da petista, já que o próprio Aécio ficou apenas em segundo lugar em seu colégio eleitoral.
Se conseguiu reverter os momentos mais desfavoráveis da campanha, quando amargava a terceira colocação com 15% dos votos, recai sobre Aécio a responsabilidade por ter apontado Pimenta da Veiga como candidato do PSDB em Minas. A indicação do ex-prefeito de Belo Horizonte é considerada por correligionários como um erro pessoal de Aécio, que escolheu a dedo seu candidato. Pimenta estava afastado do mundo político e vivia em Goiás antes de ser convocado para disputar o governo mineiro.