‘Perdi metade de mim. Preferia até morrer e deixar ele vivo. Mataram um anjo’. Por trás destas palavras de desabafo está o autônomo Marcos dos Santos, de 53 anos. Ele perdeu um de seus filhos, Marcos Vinícius do Santos, de 11 anos, durante um tiroteio na Cidade de Deus, Zona Oeste do Rio, na noite desta quarta-feira. O menino, que costumava ajudar o pai, vendedor de peixe, foi baleado enquanto estava na barraca de vendas da família — eles comercializavam frutas, na ocasião — localizada na Estrada Marechal Miguel Salazar Mendes de Moraes, esquina com a Rua Josafá. No tiroteio, um adolescente de aproximadamente 17 anos foi atingido e também morreu. Duas pessoas ficaram feridas, entre elas uma outra criança.
As vítimas chegaram a ser atendidas na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Cidade de Deus. Os dois sobreviventes estão internados no Hospital municipal Lourenço Jorge, na Barra. O caso está sob a investigação da Delegacia de Homicídios (DH) da Capital. As vítimas, uma criança e uma mulher, ainda não foram identificadas, de acordo com os agentes. A polícia investiga as circunstâncias da ação criminosa.
Testemunhas contaram que por volta das 20h pelo menos dois suspeitos armados entraram na Rua Josafá. Ao chegarem ao final da via, eles realizaram vários disparos. Houve tumulto e bastante correria. Marcos, que estava com o irmão mais velho na barraca, ainda tentou fugir, mas foi atingido no peito.
Depois que ouvi os tiros eu saí para ver a minha garotinha de cinco anos e fui saber que meu filho tinha sido baleado. Fiquei desesperado. O pessoal lá ajudou, arranjamos um carro e o levamos para a UPA. Ele foi socorrido na hora, mas infelizmente não resistiu — relata, emocionado, o pai da vítima:
Era muito guerreiro. Foi uma morte estúpida, que ninguém esperava. Não sei de onde saíram esses caras dando tiro em todo mundo.
Durante a madrugada, parentes do menino compareceram à DH. Emocionados, eles contaram que Marcos Vinícius, cujo apelido era neném, era muito querido na Cidade de Deus:
Tinha que ver ele limpando peixe, o pessoal ficava de boca aberta. A caixinha dele ficava lá (no balcão) e todo mundo colocava um dinheirinho para ele. Era muito trabalhador e obediente — afirma, chorando, a tia do menino Sueli Santos Gomes, de 60 anos.
Agentes da especializada estiveram no local do tiroteio e recolheram cápsulas das balas, que seriam de pistola. A lata de cerveja que um dos suspeitos estaria bebendo no momento em que chegaram à Rua Josafá também foi encontrada.
PROTESTO APÓS TIROTEIO
Revoltados, os moradores realizaram um protesto na comunidade após o tiroteio. A Estrada Marechal Miguel Salazar Mendes de Morais, no trecho entre a Rua Edgard Werneck e a Estrada dos Bandeirantes, chegaram a ficar fechados. Alguns tentaram formar barricadas e atear fogo em objetos para obstruir a via. PMs e homens do Batalhão de Choque (BPChq) foram acionados para o local. O clima ficou tenso na região. Também houve interdições nos dois sentidos da Rua Edgard Werneck, entre a Linha Amarela e a UPA da Cidade de Deus. Por volta das 23h30m, de acordo com o Centro de Operações da prefeitura, a Estrada Salazar Mendes de Moraes foi liberada.