Por. Marilene Oliveira de Andrade.
O Brasil é considerado o melhor do mundo no futebol, já conquistou cinco títulos. Realmente é muito bom, nos deixa “orgulhosos”, somos cinco estrelas, brilhamos mundialmente. O carnaval é outra atração que encanta multidões e atrai milhares de turistas estrangeiros; possuímos uma das maiores riquezas naturais, a Floresta Amazônica, com a sua rica biodiversidade, que desperta a cobiça em muitos países. Temos a maior reserva de água doce do planeta. Quantas imponências! Até aí, tudo é muito lindo e maravilhoso.
Não podemos nos esquecer que é, também, o país do contraste. Há um número exorbitante de pessoas que vivem em condição subumana, excluídas da sociedade. A fome, o desemprego, a violência, o analfabetismo, a falta de moradia, a desigualdade social, têm obscurecido a tão bela imagem esculpida do nosso país.
Diariamente somos surpreendidos por cenas que jamais gostaríamos de ver: pessoas buscando a sobrevivência nos lixões, disputando restos de alimentos com os ratos, com os urubus, com os cães. Essa cruel realidade é muito bem descrita pelo poeta Manoel Bandeira no seu poema O bicho, ao afirmar que tinha visto um bicho na imundície do pátio, catando alimento e quando o achava, sem que o examinasse, o devorava com toda voracidade. Para a surpresa do poeta, não se tratava denotativamente de um bicho, um animal. Surpreendentemente concluiu: “O bicho, meu Deus, é um homem”. Quantas pessoas, hoje, não vivem nessa mesma condição? E as nossas crianças? Muitas delas não têm o direito de viver a sua infância, logo cedo abandonam a escola ou mesmo nunca a frequentaram, pois precisam trabalhar para ajudar as suas famílias. Que futuro as espera? Precisamos mudar essa realidade!
Estamos imersos numa sociedade capitalista em que a divisão de bens sofre diferenciações gritantes, gerando a dicotomia entre exploradores e explorados, numa relação de oprimidos e opressores. O filósofo Jean-Jacques Rousseau (1997), no seu Discurso sobre a Origem e os Fundamentos das Desigualdades entre os Homens, discute a respeito da desigualdade moral ou política, resultado de uma analogia na qual alguns indivíduos usufruem de vários benefícios, enquanto outros permanecem em situação desprivilegiada. Outro problema sério, diz respeito à saúde pública. Diariamente temos filas quilométricas nos hospitais, pessoas que vão em busca de atendimento médico, muitas morrem ali mesmo ou voltam insatisfeitas para casa e sem a menor esperança de terem o seu problema resolvido. As condições precárias das unidades hospitalares, a falta de medicamentos, equipamentos e profissionais da área, têm contribuído para que a saúde encontre-se na UTI. As autoridades competentes afirmam que faltam recursos para maiores investimentos na saúde. Porém, o Brasil é o país que arrecada a maior carga tributária do mundo. Entretanto, onde está o dinheiro público? Em que está sendo usado? Rousseau assegura que, seria bom se o homem permanecesse no estado de natureza, pois gozaria de plena saúde, das forças físicas, bem como, desfrutaria das qualidades do espírito e da alma. O homem no estado de natureza ou natural é considerado um homem feliz.
Nossa sociedade tem vivenciado uma série de problemas, há um despautério assustador, cresce demasiadamente o número, principalmente, de jovens e adolescentes que adentram no mundo das drogas, do crime, da prostituição; jovens sem perspectivas de vida, sem sonhos. Cadê os nossos jovens políticos, que nas suas campanhas defendem políticas de valorização à juventude? Não podemos fechar os olhos para as causas sociais.
Dados alarmantes revelam que há na rua milhares de bandidos aterrorizando a população, praticando crimes hediondos, assassinatos, tráfico de drogas. Nas cadeias superlotadas, as pessoas já perderam a sua identidade de cidadãs. Ainda, o que nos deixa mais intrigados é sabermos que essas pessoas gastam mensalmente dos cofres públicos, quantias demasiadas para o seu sustento. Aí está parte dos nossos impostos! Precisamos repensar e intensificar alternativas que possibilitem a essas pessoas, um futuro promissor. Ouvimos sempre falar sobre novos presídios construídos e reformados, pois as cadeias não comportam mais a superlotação. Qual a razão dessa trágica realidade? Esses indivíduos não escolheram nascer delinquentes. Se fossem construídas mais escolas, não seria uma maneira de mudar essa realidade que tanto nos angustia? Se fossem oferecidas mais oportunidades para os jovens, não evitaríamos parte desses problemas? É mais fácil educar crianças do que manter homens encarcerados.
O Estado gasta mensalmente, valores altíssimos com um presidiário, todavia, para uma criança que precisa de muitos cuidados, como uma alimentação adequada e educação de qualidade, é destinada uma mísera quantia. Que paradoxo revoltante! O dinheiro utilizado na educação não é para ser visto como despesa, porém, como um dos mais nobres investimentos do país. Precisamos repensar essa questão tão importante para a nossa sociedade.
No Brasil não existe guerra com tanques, mísseis, bombardeios, mas cotidianamente morrem muitas pessoas, vítimas de balas perdidas, de tiroteio entre policiais e bandidos. Uma guerra não declarada! O que efetivamente, nós brasileiros estamos fazendo para minimizar esse problema de ordem nacional? Não podemos continuar omissos a essas questões, somos todos responsáveis, direta e indiretamente. Questões que merecem um olhar mais atento dos nossos lideres políticos.
A educação pública brasileira ocupa uma das piores posições mundiais. Sabemos que mediante a intervenção do processo educacional, o sujeito poderá conquistar a sua emancipação, se livrar dos dogmas elitistas, mudar de postura e intervir positivamente no meio ao qual está inserido. Mediante essas reflexões, por que a educação encontra-se tão mal no país? Investir em um firme projeto educacional é despesa supérflua ou ameaça ao elitismo? “O sistema não tem medo de um pobre com fome, mas de um pobre que sabe pensar”. Reconhecemos o quanto a educação é fundamental para a formação de um sujeito pensante, critico, reflexivo e autônomo.
Os nossos professores, em troca do seu digno e árduo trabalho, recebem um salário insignificante. Entendemos que representam uma categoria que poderia ser muito mais valorizada, pois a função que ocupam é de uma responsabilidade imensurável por atuarem diretamente na formação de seres humanos.
O que nós brasileiros esperamos no século XXI, do nosso país, não é apenas ser hexacampeão, atingir records de exportação mundial, atrair mais investimentos, fechar negociações políticas, comungar do acordo ortográfico. Queremos que a dignidade humana seja resgatada, crianças vivam plenamente a sua infância, jovens possam desfrutar de melhores condições de vida com direito a mais acessibilidade às universidades públicas e que o nosso voto faça valer de verdade. Esperamos, de fato, que o nosso país se liberte dos seus passos claudicantes, acorde do sono indolente e que os nossos representantes políticos, as nossas vozes, estejam mais atentos às questões sociais que tanto nos afligem e nos incomodam. Enfim, esperamos recolorir o nosso verde-amarelo que muito nos engrandece, pois “brasileiro não desiste nunca”.
PTN NEWS.