As gerações que eram crianças, adolescentes ou jovens quando a pandemia da Covid-19 começou, em 2020, ainda sofrem com os impactos psicológicos e educacionais da crise, segundo estudos recentes. Restrições, confinamentos rigorosos e interrupções nas rotinas escolares deixaram marcas que permanecem cinco anos depois.
“O confinamento foi um ponto de virada na minha saúde mental”, conta Amélie, uma estudante francesa que tinha 19 anos no início da pandemia. “Eu me vi enfrentando tudo o que estava reprimindo, e isso desencadeou uma depressão enorme”, relata.
Atualmente, ela segue em tratamento psicológico, segundo o apurou o Jornal Folha de São Paulo.
Saúde mental em queda
Ainda de acordo com a folha, estudos mostram que jovens de 18 a 24 anos foram os mais afetados. Na França, um em cada cinco sofreu um episódio depressivo em 2021, conforme dados da agência de saúde pública. A situação é semelhante na Finlândia: pesquisa publicada na revista Lancet Psychiatry indicou aumento de transtornos como ansiedade generalizada e social entre adolescentes de 13 a 20 anos. Em 2023, os índices permaneciam altos, evidenciando que os efeitos não foram transitórios.
Desafios na educação
Além da saúde mental, os confinamentos também afetaram o desenvolvimento emocional e a aprendizagem. Crianças que começaram a escola durante a pandemia enfrentaram atrasos significativos. Um estudo publicado na Nature Behavior analisou dados de 40 pesquisas em 15 países e concluiu que muitas ainda não haviam superado essas dificuldades em 2023.
No Reino Unido, um relatório do Ofsted apontou níveis recordes de absenteísmo escolar em 2023 e 2024. Para Simon Kidwell, diretor de uma escola no norte da Inglaterra, apesar da recuperação acadêmica, a necessidade de apoio psicológico é crescente.
“Há mais crianças que precisam de serviços de saúde mental”, afirma.
Sociabilidade e transtornos comportamentais
Especialistas notaram dificuldades no desenvolvimento de linguagem, comportamento e habilidades sociais, especialmente em crianças com transtornos como autismo ou TDAH. A psicóloga Selina Warlow, que atende pacientes em Farnham, Inglaterra, explica que algumas crianças enfrentam desafios para retornar à escola.
“Muitas delas gostaram do confinamento, pois o ambiente escolar é superestimulante e desafiador”, diz.
O confinamento também atrasou diagnósticos importantes, prejudicando o início de intervenções terapêuticas que poderiam melhorar a qualidade de vida das crianças.