MUTUIPENCE MORRE NA FILA NO HOSPITAL ROBERTO SANTOS

Discaso na saúde pública.

Depois de enfrentar 250 quilômetros de estrada, o lavrador Manoel Nonato de Souza, 72, chegou à capital na última terça-feira, do município de Mutuípe, sudoeste do Estado, e foi levado ao setor de emergência do Hospital Geral Roberto Santos, no Cabula. O pé direito da única perna que ainda lhe restava gangrenado, exalava um odor de carne apodrecida, e foi, a princípio, o motivo de ele ter a entrada negada na sala de triagem. O centro cirúrgico também estava lotado. Diabético e hipertenso, Nonato esperou por duas horas, contorcendo-se de dor em cima da maca, do lado de fora da unidade. Só após contato do A Tarde com a assessoria de comunicação do hospital, o paciente foi acolhido no setor de  vascularização, onde foi isolado pelo risco de contaminação, para aguardar a cirurgia de amputação. No dia seguinte, Manoel não resistiu à infecção, que já se alastrara até o joelho, e morreu, por volta das 14h. O caso sintetiza as dificuldades diárias da emergência do hospital, que, superlotada, enfrenta sobrecarga da capacidade de atendimento acima de 80%. Somente na terça-feira, havia 186 pacientes, quando o limite é de 100. Os reflexos deste quadro, comum a outros grandes hospitais públicos do país, são doentes nos corredores, equipes trabalhando no limite e a população revoltada.