Mulher congela óvulos ao descobrir câncer e consegue realizar o sonho de ser mãe

Advogada decidiu pelo procedimento e tem uma filha. Conheça histórias de outras mulheres baianas que também desejam passar pela gestação e congelaram seus óvulos; especialista explica procedimento.

Os planos para realizar sonho de ser mãe começaram quando a baiana Rafaela Valente tinha cerca de 30 anos. Entretanto, o inesperado bateu à porta da advogada quando ela descobriu um câncer. Tornar-se mãe só foi possível após o congelamento de óvulos.

Em entrevista ao g1, a advogada de 41 anos, mãe de uma garotinha de cinco, revelou detalhes do caminho que a levou à maternidade. Outras mulheres baianas, que também optaram pelo procedimento, dividiram suas experiências e planos para uma futura gravidez. [Conheça abaixo]

Além disso, a médica Ana Cláudia Trigo, detalhou como é feito o congelamento de óvulos. A especialista ainda explicou que o procedimento é algo indicado para pacientes que passarão por tratamentos de quimio e radioterapia, com foi o caso de Rafaela Valente, que descobriu o câncer em 2012, durante exames de rotina realizados para planejamento da gravidez.
“Fiz os exames e, como uma boa curiosa, resolvi abrir antes da hora. Vi que uma taxa estava extremamente alterada e, quando mostrei para o ginecologista, soube que ele não havia solicitado esse exame, o laboratório fez por engano”, relembra.

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Após o resultado, Rafaela foi à consultas com diversos profissionais até receber o diagnóstico de mieloma múltiplo, câncer que tem início

na medula óssea, se multiplica, e compromete a produção das outras células do sangue.

A advogada passou por um autotransplante de medula e por algumas sessões de quimioterapia. Antes dos procedimentos contra o câncer, o médico responsável pelo tratamento sugeriu que ela congelasse os óvulos.

“Eu pensava: ‘como ele está perguntando se eu quero ter um filho, se eu tenho uma doença que não tem cura?’. Mas ao mesmo tempo, saber que existia a possibilidade de congelar [os óvulos] me deixou aliviada. Entendi que não iria morrer”, conta.

O mieloma não tem cura, mas é possível controlar os sintomas e oferecer qualidade de vida para os pacientes. Além disso, com os atuais tratamentos, existe a possibilidade da remissão, ou seja, a doença fica indetectável nos exames, mas ainda é necessário acompanhá-la através de exames. Como ocorre com a advogada.

Para realizar o sonho de ser mãe, a advogada congelou 14 óvulos e, um ano após o fim da quimioterapia, deu início ao processo de fertilização. A boa notícia veio logo em seguida: na primeira tentativa, ela conseguiu engravidar de Maria Valentina, que este ano completa seis anos de idade.

Rafaela reforça que se não tivesse congelado os óvulos, provavelmente não teria engravidado, pois entrou na menopausa depois do tratamento, com apenas 32 anos.

“Essa é uma doença silenciosa, então as pessoas só descobrem quando já estão com um estágio avançado. Descobrir foi um milagre e a minha filha foi um milagre também”, afirma.

Segundo a médica ginecologista obstetra, Ana Cláudia Trigo, especializada em reprodução assistida e sexologia, o congelamento de óvulos é bastante indicado para pacientes que vão passar por tratamento de câncer.

“Alguns medicamentos da quimioterapia atuam na divisão das células e podem afetar também as células dos ovários, comprometendo uma futura gravidez”, explica.

‘Pode ser minha última chance’

Assim como Rafaela, R.S., que prefere não se identificar, também recebeu o diagnóstico de câncer e sonha em ser mãe. A mulher de 43 anos conta que o câncer de mama foi descoberto em 2021, um ano e meio após o casamento. Foi nesse período também que ela e o marido já tinham iniciado as tentativas para engravidar. Com a descoberta do câncer, realizar o desejo de ser mãe precisou ficar em segundo plano.

“Eu nunca priorizei a maternidade, mas quando você descobre um câncer, você pensa em tudo que ainda não fez”, diz.

Após passar pela mastectomia em um dos seios, cirurgia de retirada de toda a mama, a mulher recebeu uma outra notícia: ainda precisaria passar por sessões de quimioterapia.

“Quando soube da quimioterapia, foi outro baque. Falei com a oncologista sobre maternidade e ela sugeriu que eu congelasse os óvulos, porque depois da quimioterapia a mulher pode ter dificuldade para engravidar”, conta.

A paciente está realizando o procedimento e os óvulos devem ser retirados em maio. Logo em seguida ela começará o tratamento para combater o câncer.

“É um tratamento caro e no susto é mais complicado. Mas estou fazendo porque pode ser minha última chance de ter meus óvulos congelados”, completa.

Como é feito o congelamento de óvulos?

A arquiteta Priscila Salles, de 32 anos, não pretende ser mãe agora. Ela o namorado estão juntos há quatro anos, mas completar a família com crianças é um plano para o futuro. O casal deseja ter filhos quando estiverem próximos dos 40 anos.

“Filho não é minha prioridade agora”, afirma a arquiteta.

Mesmo jovem, Pirscila decidiu congelar os óvulos em 2022 como forma de prevenir o sonho futuro.

Segundo a médica Ana Cláudia Trigo, o pensamento de Priscila está correto: quanto antes os óvulos forem congelados, mais chances deles serem fertilizados no futuro.

“A partir dos 35 anos, a fertilidade da mulher começa a cair, por isso fazer o procedimento até essa idade é melhor. O congelamento dos óvulos não é uma garantia de gravidez futura, mas sim uma possibilidade”, explica.

O processo de congelamento acontece em algumas etapas. Primeiro, a mulher passa por uma série de exames ginecológicos e, após os resultados, começa a tomar medicações hormonais que irão estimular os ovários.

Quando os óvulos chegam ao tamanho ideal para a extração, o procedimento de retirada é feito. Segundo a especialista, a quantidade de óvulos colhidos varia para cada mulher, mas o ideal é ter pelo menos oito óvulos maduros.

“Quanto mais óvulos, mais tentativas futuras. Além disso, pode haver perda de material após o descongelamento”, explica Ana Cláudia.

Depois, os óvulos são congelados e podem esperar por anos até que a mulher decida fazer a fertilização.