Mais um dia onde o dólar ficou muito volátil, batendo novo recorde nesta quarta-feira terminando em R$6,26. Essa alta, muito se da, pela divulgação no qual o Federal Reserve (Fed), o Banco Central americano, decidiu cortar hoje os juros nos Estados Unidos em 0,25 ponto percentual para um intervalo entre 4,25% e 4,50% em mais uma redução. A decisão fez o Ibovespa cair também, e por volta das 16h, o índice desabava 2,31$, em 121.807 pontos.
O dólar oscilava antes mesmo do anúncio do Fed, mas por conta de motivos internos. Por volta das 13h, a moeda norte americana poderia ser negociada por R$6,19. A alta de 1,55% aconteceu depois da declaração Fernando Haddad (PT), ministro da fazenda, sobre o governo receber informações na qual a desvalorização do real pode ser explicada em partes por “especulação”. De acordo com o ministro, é esperado que o dólar se acomode.
“Nós temos um câmbio flutuante e, neste momento em que as coisas estão pendentes, tem um clima de incerteza que faz o câmbio flutuar. Mas eu acredito que ele vai se acomodar “, afirmou Haddad.
Para tentar frear a crescente da moeda, o Banco Central (BC) realizou dois leilões entre quinta-feira, 12, e terca-feira, 17, inserindo U$ 12,8 bilhões no mercado. Desse montante, U$5,8 bilhões foram vendidos à vista, ou seja, não se tem compromisso na recompra por parte do BC.
Porém, essas intervenções não foram suficientes para amenizar o apetite dos investidores. Mas, se entende que o mercado quer mais dólares. Vale lembrar que em 2020, foram leiloados U$7 bilhões, para que o dólar não chegasse na casa dos R$6,00.
Enquanto não é efetuado outro leilão pelo BC, o Congresso segue em processo de votação para um pacote de cortes do governo. Composto por um Projeto de Lei (PL), um Projeto de Lei Complementar (PLP) e uma proposta de emenda à Constituição (PEC), esse conjunto deve economizar R$70 bilhões nos dois anos seguintes.
Na opinião de Idean Alves, especialista em investimentos, o boato que que um ataque especulativo não seria real, já que se fosse, os leilões do Banco Central teriam contido a alta. “Parecem estar tentando apagar um incêndio com copo de água. O Brasil precisa da mudança estrutural, nesse caso, corte de gastos para passar credibilidade fiscal e não medidas paliativas”, avalia.
Ainda segundo Alves, a alta do dólar é segurada pela falta de segurânca nas contas públicas, causando assim uma fuga de capital. “Até a África do Sul está tendo a preferência do investidor estrangeiro. O nível de segurança que as contas públicas passa é muito baixo hoje, o que está levando os investidores a buscarem alternativas ainda que menos rentáveis, mas seguras. Infelizmente, o dólar na casa dos R$ 6,00 parece o novo normal. Algumas empresas listadas previam dólar a R$ 6,40 para 2025, a “profecia” que parecia inimaginável está se realizando”, comenta.
Essa opinião converge com à de Paula Zogbi, gerente de Research da Nomad.
“Do ponto de vista do mercado brasileiro, juros mais altos nos EUA tendem a ser um fator de fortalecimento do dólar em relação a outras divisas globais, pelo diferencial de juros atraindo capital para os EUA. Isso se soma a um contexto já desafiador para o real, que segue respondendo aos riscos domésticos com a grave deterioração do sentimento em relação à saúde fiscal após a apresentação de um pacote de cortes de gastos considerados insuficientes para manter a dívida pública sob controle. Dólar ainda mais forte pode significar mais inflação, o que levaria a uma taxa Selic ainda mais elevada e, consequentemente, um encarecimento da própria dívida pública”, avalia Paula.