Governo afirma que está avaliando a possibilidade do retorno do horário de verão para diminuir pressão sobre o sistema elétrico
O governo indicou que está avaliando internamente a possibilidade de retorno do horário de verão. Essa política geralmente era adotada no mês de outubro de cada ano, até fevereiro do ano seguinte, mas foi extinta em 2019, durante o governo de Jair Bolsonaro.
O argumento central para um possível retorno do horário de verão é a possibilidade de redução da demanda no horário de pico e, consequentemente, a diminuição da pressão sobre o sistema elétrico, especialmente tendo em vista o cenário hidrológico desfavorável do momento, que tem levado ao acionamento de termelétricas, de custo mais elevado.
Entre os argumentos apresentados na discussão sobre o retorno ou não do horário de verão, há quem aponte que a diferença na economia de energia seja pequena demais para ser levada em conta; por outro lado, quem é a favor cita os possíveis impactos no turismo e na economia. Veja, abaixo, argumentos apresentados nesta discussão.
Argumentos pró retorno do horário de verão
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, afirmou na quinta-feira, 11, que a possibilidade da volta do horário de verão ainda está sendo analisada. Segundo ele, o horário de pico de consumo de energia elétrica é quando a maioria da população volta para casa após o trabalho, e diversos aparelhos são ligados, como ar-condicionado, ventilador, chuveiro elétrico e televisão. Nesse horário, há perda das energias intermitentes, como solar e eólica, que dependem de condições naturais.
Por isso, é necessário acionar as termelétricas, que é mais cara e mais poluente. “A solar não está mais produzindo, no início da noite normalmente a eólica produz menos, então nós precisamos de despachar a térmica. Se a gente puder diluir isso no horário de verão, talvez seja um ganho que vá dar a robustez, inclusive ao sistema”, disse Alexandre Silveira.
Silveira também destacou que o horário de verão impulsiona a economia e tem um impacto positivo para o turismo. Ele ressaltou que outros efeitos ainda precisam ser avaliados para uma decisão sobre o tema.
Para o vice-presidente Geraldo Alckmin, o retorno parece uma “boa alternativa”. “O horário de verão pode ser uma boa alternativa para poupar energia. Campanha para economizar energia. Você procurar evitar desperdício. Fazer uma campanha de ajuda também”, disse ele à imprensa na quarta-feira, 11.
Para o ex-diretor da Aneel Edvaldo Santana, o horário de verão jamais deveria ter sido cancelado. “Diante da situação atual, de escassez de recursos hídricos, que limita a geração de energia exatamente na hora da demanda máxima, que é entre o fim da tarde e o início da noite, o horário de verão seria positivo. Não é nada excepcional, mas ajuda” argumenta.
Já o ex-diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) Luiz Eduardo Barata avalia que a política do horário de verão é positiva, pois reduz a geração de termelétricas. Na direção do ONS à época em que o governo acabou com a medida, ele ressalta que foi contra o fim do adiantamento dos relógios e considera que a decisão de voltar “é política e não técnica”.
“Eu não acredito que a mudança no clima [favorável para os reservatórios] vai ocorrer de forma abrupta, a nossa expectativa é contar com temperaturas altas por mais tempo”, diz, em relação às propostas para a confiabilidade do sistema elétrico, incluindo o horário de versão.
Por sua vez, o presidente da Associação Brasileira de Companhias de Energia Elétrica, Alexei Macorin, afirma que o País tem aumentado a inserção de fontes intermitentes (solar e eólica) – em que a curva de demanda não acompanha a curva de geração. Ele também defende o horário de verão como alternativa viável para aliviar o sistema, no horário de pico de demanda.
Argumentos contra o horário de verão
O ex-diretor do perador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) Luiz Carlos Ciocchi, que deixou a instituição em maio, comenta que todos os anos o operador costuma realizar, a pedido do governo federal, estudos sobre os benefícios, do ponto de vista elétrico, de retomar o horário de verão, atualizando os dados de acordo com a situação de cada ano.
“Nos anos anteriores, o resultado sempre foi que, do ponto de vista energético, a diferença é pequena, não vale a pena [adotar o horário de verão]”, diz. Ele cita, porém, que outros benefícios devem ser levados em consideração, como maior estímulo ao turismo. Procurado para comentar sobre estudo atualizado sobre o tema, o ONS evitou responder e indicou questionar o Ministério de Minas e Energia.
Diante de reservatórios de hidrelétricas mais baixos e temperaturas mais elevadas, que estimulam maior consumo, o preço da energia tem acelerado, em especial no fim da tarde, entre 17h e 19h – justamente no período que seria influenciado pela mudança no relógio. Na semana passada, por exemplo, o preço spot horário da energia – tecnicamente conhecido como Preço de liquidação das diferenças (PLD) – chegou a bater os R$ 712 por megawatt-hora (MWh), às 18 horas.
Para Ciocchi, a adoção do mecanismo somente alteraria o horário do preço-teto diário, sem efetivamente provocar benefício substancial de redução de custos, porque não haveria mudança significativa na demanda de ponta.
Ele explica que o preço sobe no fim do dia justamente quando a geração solar diminui, exigindo maior produção de energia, basicamente de hidrelétricas e termelétricas. “Todos os dias, quando o sol se põe, vemos uma rampa de 20 a 25 gigawatts para cobrir; o sol se põe na hora que ele tem que se pôr, se você chama aquela hora de 5, 6 ou 7 horas da noite, pouco importa, a rampa é a mesma.”
Na visão do sócio da CBIE Advisory Bruno Pascon, a retomada do horário de verão traria “alguma ajuda”, mas nada significativo. Ele lembra que a razão original do mecanismo era deslocar o pico de consumo de energia, que se dava quando as pessoas voltavam para casa e utilizavam chuveiros elétricos no início da noite.
Atualmente o pico ocorre entre 14h30 e 15h30, devido ao uso de ar condicionado. “Com essa dinâmica, o efeito do horário de verão é muito pontual”, diz. Ele cita que em 2018, último ano de vigência do mecanismo, o efeito de economia de energia foi de somente 0,4%./Com Renan Monteiro, Luciana Collet, Sofia Aguiar e Luiz Araújo.
Terra Brasil