Aos domingos, não tinha nada que fizesse a dona de casa Helenilva Lima da Silva, 58 anos, faltar ao culto evangélico na Igreja Universal do Reino de Deus, em Paripe. Na manhã de ontem, ela saiu de casa, em Fazenda Coutos I, no horário de sempre — às 5h30 —, acompanhada do marido, José Nilson da Silva, 55, em direção ao templo, na Avenida Afrânio Peixoto (Suburbana).
Os dois caminhavam na calçada, quando foram atropelados por um Uno preto (NYL-4727), conduzido pelo eletricista Paulo Roberto Pinheiro Conceição, 52. Helenilva caiu no passeio e morreu na hora. José Nilson ficou ferido e foi encaminhado ao Hospital do Subúrbio pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). De acordo com a Transalvador, uma terceira vítima, um homem identificado como Eli Ferreira Santana, que passava pelo local no momento do acidente, também foi atingido pelo veículo, mas teve ferimentos leves.
Segundo a Polícia Militar, Paulo Roberto perdeu o controle do Uno pouco depois de ter passado pela rotatória perto do Centro de Abastecimento de Paripe. Ainda de acordo com a PM, ele apresentava “sinais de embriaguez”, quando saiu do veículo. Testemunhas do acidente também afirmaram que o eletricista aparentava ter bebido. “Ele gritava ‘meu Deus, o que eu fiz’. Estava bêbado, bêbado. Falando todo embolado, tentando pegar no corpo da senhora morta”, contou Joselito dos Anjos, 43, que chegou pouco depois do acidente.
Alguns comerciantes e moradores da região tentaram agredir Paulo Roberto, quando a PM chegou. Ele foi, então, conduzido à 5ª Delegacia (Periperi) e, posteriormente, à Central de Flagrantes, no Iguatemi, onde foi ouvido. Lá, a delegada responsável pelo caso, que não se identificou, preferiu não comentar detalhes da investigação.
“Não sou criminoso”
Ao CORREIO, o eletricista confirmou que consumiu bebida alcoólica na noite de sábado. À polícia, ele ainda teria dito que bebeu até as 3h. “Eu não cometi um crime porque eu quis. Eu não corri, não sou um criminoso, eu trabalho. Meu Deus, meu Deus. Eu acabei com a minha vida, acabei com a vida deles. Vou carregar essa cruz pelo resto da minha vida”, desabafou, chorando.Paulo Roberto explicou que, após ter bebido, parou próximo à Igreja de Periperi, para dormir um pouco. Depois, quando acordou, planejava seguir para terminar um serviço elétrico, na fachada de uma padaria em Paripe.
Quando chegou à delicatessen, viu que outros serviços ainda não tinham sido concluídos e decidiu voltar para casa. Foi quando aconteceu o acidente.Ele diz que tudo veio “de repente”. “Eu faço aquele trajeto sempre. Não estava em alta velocidade. De repente, eram três pessoas na minha frente. Só Deus é quem sabe o que aconteceu, mas eu nem me importei com o carro. Só queria saber das pessoas. Eu não sou assassino. Na hora que vi aquela senhora lá, quis partir desta terra também”.
Paulo Roberto foi preso em flagrante e autuado por homicídio culposo (quando não há intenção de matar) e por lesão corporal. Ele ficará custodiado na 5ª Delegacia (Periperi), além de ter tido a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) confiscada.“Pelos danos do veículo, dá para ver que ele não estava andando devagar”, afirmou o supervisor de trânsito da Transalvador Ademário Gomes, ainda no local do acidente. O carro do eletricista foi encaminhado ao pátio do Detran e deve ser periciado pelo Departamento de Polícia Técnica (DPT). Paulo Roberto fez o teste de alcoolemia no DPT. O resultado deve ficar pronto hoje, segundo a assessoria de comunicação do órgão.
40 anos juntos
Pais de quatro filhos (o caçula morreu há três anos, vítima de uma bala perdida), Helenilva e José Nilson estavam juntos há quase 40 anos. Ela vendia acarajé em Coutos e ele era motorista aposentado. Um dia antes do acidente, no sábado, passaram a manhã assistindo ao jogo de futebol de um dos filhos.
“Estava em casa, na Mata Escura, quando minha cunhada me ligou para contar o que tinha acontecido. Ontem (anteontem), ainda almoçamos juntos e ela me deu um abraço tão apertado que parecia estar se despedindo”, lembrou um dos filhos, que não quis se identificar. “Queria saber o que faz um cara, sabendo que direção e bebida não combinam, encher a cara, pegar um carro, que é praticamente uma arma, e fazer isso. Espero que a Justiça seja feita”, completou.
Segundo os vizinhos, Helenilva era muito comunicativa e alegre. “Ela me ajudava muito, principalmente quando me separei. Ela era muito cristã e, para ela, domingo era dia de igreja. Deixava qualquer compromisso que fosse para ir à igreja dela. Isso aqui foi uma tragédia. Ela vai deixar muitas saudades”, disse o encarregado Cláudio Paz, 41, que mora na mesma rua que o casal.
O corpo de Helenilva será enterrado hoje, as 15h, no Cemitério Municipal de Plataforma. José Nilson permanece internado no Hospital do Subúrbio, mas está consciente e fora de perigo. (Correio)