Estaleiro Eisa fecha as portas e demite 3 mil metalúrgicos. Funcionários foram surpreendidos nesta segunda-feira

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Sindimetal-Rio / Marcos Pereira Fernandes

 

Cerca de três mil funcionários do Estaleiro Eisa, na Ilha do Governador, foram desligados da empresa por meio de uma carta recebida na manhã desta segunda-feira, ao chegarem ao local de trabalho, que estava com os portões lacrados. Na mensagem, assinada pela presidência do estaleiro – controlado pela holding Synergy Shipyards -, a empresa justifica que o corte de pessoal é consequência dos impactos da recessão econômica e da Lava-Jato, “que paralisou as atividades da indústria naval e de offshore”. “A única alternativa para manter o estaleiro funcionando é diminuir ao máximo os custos operacionais”, argumenta. “Com muita tristeza e dor nos vemos na necessidade imediata de realizar corte de pessoal. Comunicamos por meio desta que estamos efetuando a rescisão do seu contrato de trabalho, dia 11/12, devendo encerrar suas atividades de forma imediata”, informou em carta.

Após receberam a mensagem, os metalúrgicos caminharam em uma manifestação até o Aeroporto Galeão. A diretoria do esteleiro e do Sindicato dos Metalúrgicos do Rio de Janeiro (Sindimetal-Rio) se reúnem às 15h para discutir as rescisões.


O presidente do Sindimental-Rio, Jesus Cardoso, teme que os funcionários desligados fiquem sem receber direitos como 13° salário, pagamento de multa e férias, além do reajuste salarial de 9,8% recentemente aprovado, que é retroativo ao mês de outubro e ainda não foi pago pela empresa. Procurado pelo GLOBO, o estaleiro não quis comentar a respeito.

Há quatro meses a mesma empresa demitiu 700 metalúrgicos do Estaleiro Mauá, e até hoje não receberam nada. A empresa já estava com dificuldades de pagar os funcionários. Só estava pagando até R$ 3 mil por mês, mesmo a quem ganhava mais. Fomos totalmente surpreendidos pelos portões lacrados com chapa de aço e a carta. Queremos nossos direitos — ressalta Cardoso.

O estaleiro Eisa está com problemas financeiros desde abril do ano passado, quando a venezuelana PDVSA deixou de honrar o pagamento referente à encomenda de dez navios num negócio de US$ 1 bilhão. A situação se agravou quando a Procuradoria da Fazenda conseguiu bloquear na Justiça cerca de R$ 40 milhões do Eisa porque outra empresa do grupo, o estaleiro Mauá, que fica em Niterói, estava devendo impostos ao Fisco. A gota d´água foi uma greve que paralisou as atividades do estaleiro por 45 dias.

Em junho deste ano, o Estaleiro Mauá acabou demitindo mil operários, de um total de cerca de 3,6 mil, segundo informou à época o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Niterói, Edson Rocha. O sindicalista explicou que em reunião com os representantes do estaleiro, a empresa disse que as demissões foram necessárias porque não haviam mais recursos para pagar os funcionários.

Na mensagem distribuída aos metalúrgicos do Eisa nesta segunda, a empresa garante que fará “o possível para continuar com as negociações de retomada do estaleiro, e o mais breve possível poder reincorporar aqueles que estão sendo desligados e desejarem reassumir suas funções na empresa”.

Leia a carta na íntegra:

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