Dono da Esportes da Sorte deixa carta antes de ser detido em operação que prendeu Deolane Bezerra: ‘Surpreso com a ausência de motivos’

Darwin Henrique da Silva Filho estava viajando a trabalho quando operação contra lavagem de dinheiro e jogos ilegais foi deflagrada. Maria Eduarda Filizola se apresentou à polícia junto com o marido e também foi presa.

O empresário Darwin Henrique da Silva Filho, dono da casa de apostas Esportes da Sorte, se entregou à polícia e foi preso na quinta-feira (5), junto com a esposa, Maria Eduarda Filizola. O casal é alvo da operação “Integration”, que investiga um esquema criminoso de lavagem de dinheiro e jogos ilegais e também prendeu a influenciadora digital Deolane Bezerra e a mãe dela, Solange Bezerra.

  • Foi surpreendido com o mandado de prisão preventiva:

“Sigo colaborando com todas as investigações, inclusive ficando surpreso com a ausência de motivos que levaram a uma medida tão rigorosa, quanto a que a mim foi aplicada. Dado que sempre me coloquei à disposição das autoridades. De qualquer forma, irei cumprir os ritos legais e observar todas as nuances jurídicas”, afirmou Darwin.

  • Está com a consciência tranquila:

“Não existem duas verdades, mas podem existir duas, cinco, dez, mil mentiras, mas a verdade é sempre uma só. Preferi vir aqui, antes de cumprir o meu dever com a justiça, e falo com muita transparência, porque se não tivesse a consciência tranquila sobre meus atos, jamais iria me expor nesse momento, inclusive porque serei confrontado comigo mesmo daqui para frente”, falou.

  • Tem confiança na Justiça:

“Eu acredito muito na justiça e tenho absoluta certeza da minha conduta e de todas as pessoas que trabalham conosco, sei que tudo isso será esclarecido”, contou.

  • Sente tranquilidade e ansiedade ao mesmo tempo:

“Me encontro tranquilo neste momento. Por mais que tenha muita angústia, o que é natural, já que ninguém deseja passar por isso, sigo confiante no processo. Aproveito para agradecer aos nossos colaboradores, clientes, parceiros, e dizer que vocês jamais irão se decepcionar com o Esportes da Sorte”, declarou o dono da bet.

  • Defende a regulamentação de jogos online e apostas esportivas no país:

“Sempre fui muito vocal no intuito de contribuir com o debate favorável à regulamentação das apostas esportivas de cota fixa e jogos online no Brasil. Como representante do Esportes da Sorte, sempre colaborei com a atuação das autoridades e das investigações. Nossa atividade é lícita, já as organizações criminosas são difíceis de combater e acredito que isso deve ser separado. A minha atitude sempre foi defender a lei. Também sempre pautei nossa atuação em favor das boas práticas, do jogo responsável e o defendo como forma de entretenimento”, disse.

Defesa do casal pediu habeas corpus

 

De acordo com a defesa do casal, Darwin Filho estava em uma viagem a trabalho no momento em que os policiais foram ao apartamento dele, no bairro de Boa Viagem, na Zona Sul do Recife, para cumprir os mandados de prisão do empresário e da esposa, na manhã da quarta-feira (4).

O escritório de advocacia Rigueira, Amorim, Caribé e Leitão informou, ainda, que entrou com um pedido de habeas corpus, que segue sob análise do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE).

“Todos os questionamentos da polícia foram devidamente respondidos e as dúvidas sobre as atividades da empresa Esportes da Sorte oram sanadas, demonstrando-se a regularidade e a legalidade das atividades profissionais”, afirmou a defesa em nota.

Suspeitas sobre a empresa

  • A Esportes da Sorte é uma plataforma online de apostas esportivas que patrocina diversos clubes de futebol, incluindo Corinthians, Athletico-PR, Náutico e Santa Cruz;

  • A “bet”, nome pelo qual esse tipo de empresa é conhecido, começou a ser investigada em 1º de dezembro de 2022;

  • Nesse dia, a polícia apreendeu mais de R$ 180 mil em espécie, além de documentos, na sede da empresa Caminhos da Sorte, que pertence a Darwin Henrique da Silva, pai do CEO da Esportes da Sorte;

  • Em decisão judicial que concedeu a quebra de sigilo fiscal da empresa, em novembro do ano passado, a juíza Andréa Calado da Cruz afirmou que, conforme as investigações, a documentação apreendida foi suficiente “para apontar estreita ligação entre as empresas supramencionadas na prática de atividades ilícitas”;

  • Outra atividade da empresa que está sob investigação diz respeito à compra e à venda de dois carros de luxo, uma Ferrari e uma Lamborghini Urus Performante, tanto pela pessoa jurídica da Esportes da Sorte quanto por Darwin Filho;

  • Os dois veículos foram comercializados à vista por R$ 8 milhões em 2023, segundo aponta o inquérito, e o processo não menciona para quem os carros foram vendidos;

  • No entanto, em depoimento à polícia após ser presa, na quarta (4), Deolane confirmou que comprou de Darwin Filho um carro, de modelo Lamborghini Urus Performante, no ano passado, por R$ 3,85 milhões.

  • Como foi a operação

    • A terceira fase da operação “Integration” foi deflagrada para cumprir 19 mandados de prisão;
    • Entre os presos, estão Deolane Bezerra e a mãe dela, Solange Bezerra (veja vídeo acima). Entretanto, não foi divulgada qual seria a participação delas nos supostos crimes nem os nomes dos outros alvos;
    • Deolane estava em viagem com a família quando foi presa, em um hotel no bairro de São José, na região central do Recife;
    • Em uma carta divulgada após a prisão, ela negou participação em crimes;
    • Também foram expedidos 24 mandados de busca e apreensão, cumpridos em seis estados: Goiás, Minas Gerais, Paraná, Paraíba, Pernambuco e São Paulo.

     

    Como funcionava o esquema

     

    Segundo o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP):

    • Cerca de R$ 3 bilhões foram movimentados por quadrilha que usava empresas de eventos e casas de câmbio para lavar dinheiro de jogos ilegais;
    • Esse valor foi movimentado de janeiro de 2019 a maio de 2023 em contas correntes, em aplicações financeiras e dinheiro em espécie, provenientes dos jogos ilegais;
    • A quadrilha usava empresas de eventos, publicidades, casas de câmbio e seguros para lavagem de dinheiro por meio de depósitos e transações bancárias;
    • O dinheiro era lavado por meio de depósitos fracionados em espécie, transações bancárias entre os investigados com saque imediato do montante, compra de veículos de luxo, aeronaves, embarcações, joias, relógio de luxo, além da compra de centenas de imóveis;
    • Os investigadores identificaram transações atípicas de pessoas físicas e jurídicas, que indicam indícios de crimes financeiros, sem nenhum suporte para as transações comerciais e financeiras feitas pelo grupo;
    • A maioria dos integrantes tem padrão de vida incompatível com a renda e bens declarados.

     

    Bens apreendidos

    De acordo com a Polícia Civil de Pernambuco, também foi decretado o sequestro de bens dos alvos da operação. Entre os itens apreendidos, estão:

    • 11 relógios da marca “Rolex”;
    • 2 helicópteros;
    • 1 avião, que pertencia ao cantor Gusttavo Lima;
    • Carros de luxo, sendo um na mansão de Deolane Bezerra;
    • Embarcações;
    • Imóveis;
    • Joias;
    • Notas de dinheiro em euro e dólar;
    • Bolsas de luxo;
    • Garrafas de vinho (cada uma delas avaliada em torno de R$ 5 mil).

     

    O que dizem Deolane e a Esportes da Sorte

    O escritório da advogada Adélia Soares, que defende Deolane e Solange, publicou uma nota nas redes sociais em que diz que a investigação é sigilosa e que a empresária está à disposição das autoridades. Já em carta publicada no Instagram, a influenciadora afirmou que está sofrendo “uma grande injustiça” e que ela e a família são vítimas de preconceito.

    Também procurada, a Esportes da Sorte disse, por meio de nota, que:

    • Ratifica o compromisso com a verdade, “com o jogo responsável e, principalmente, com o cumprimento de todos os seus deveres legais”;

    • A casa de apostas está “de portas abertas” para apresentar documentos, esclarecer dúvidas e prestar “apoio irrestrito” a qualquer ação investigatória;

    • Atua sempre com transparência e está sem acesso aos autos do inquérito e às razões da ação policial.

    G1 Pernambuco