Na Bahia, em 2023, 84% dos casos ocorreram com pessoas entre 30 e 40 anos; veja como prevenir
No último dia 09, o jogador de futebol Deon, atacante do Bahia de Feira, faleceu durante um treino do time, após sofrer um infarto. Ele tinha apenas 36 anos. O caso do atleta não foi isolado: comumente associados aos mais velhos, os problemas cardíacos vêm aumentando entre jovens e adultos.
Apenas entre janeiro e junho deste ano, 63 pessoas com idade igual ou menor que 40 anos morreram por doenças isquêmicas do coração na Bahia. Dessas mortes, 84% aconteceram com pessoas entre 30 e 40 anos. De 2019 a 2022, foi registrado um aumento de 3,3% nos óbitos por infarto entre essa faixa etária: em todo o ano de 2019, foram 149 ocorrências. Já em 2022, o ano fechou com 154.
Um desses casos foi o do estudante Ian Caíque Nunes, que faleceu vítima de um infarto fulminante aos 19 anos, em setembro do ano passado. De acordo com seu irmão, Pedro Henrique, de 25 anos, o mais novo era saudável, praticava esportes e se alimentava bem. Entretanto, mesmo sentindo dores de cabeça e tonturas de tempos em tempos, ele raramente ia a médicos ou fazia exames de rotina.
“Ian deixou um alerta não só para mim, mas para todos os jovens da comunidade. Que, independente da idade, temos que fazer o check-up. Depois que ele faleceu, eu procurei mais o posto de saúde e estou me cuidando mais”, diz Pedro.
Mais jovens
O número de internações por infarto e doenças do coração de pessoas com 40 anos ou menos também aumentou nos últimos quatro anos, pulando de 574, em 2019, para 615 em 2022. Este ano, de janeiro a maio, foram 178 internações no estado, o que representa, em média, 35,6 internações por mês.
O infarto agudo do miocárdio é a maior causa de mortes no Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde. Um levantamento feito pelo Instituto Nacional de Cardiologia (INC) mostrou que, entre 2008 e 2022, o número de internações por infarto aumentou em todo o país: entre os homens, a média mensal aumentou de 5.282 para 13.645, o equivalente a uma alta de 158%. Entre as mulheres, a média passou de 1.930 para 4.973, num aumento de 157%.
De acordo com o cardiologista Eduardo Lisboa, os infartos fulminantes são mais comuns em pessoas acima dos 65 anos. “Isso ocorre porque, à medida que envelhecemos, a probabilidade de desenvolver doenças cardíacas aumenta devido ao acúmulo de fatores de risco ao longo do tempo, como hipertensão, diabetes, colesterol elevado e outros”, explica.
Para conhecer os sintomas do infarto, ele recomenda o autoconhecimento. “Se um desconforto torácico, uma dor no peito ou uma sensação de falta de ar surge de forma inesperada ou incomum e perdura, deve-se buscar uma avaliação médica, entrar em contato com um serviço de emergência para relatar esses sintomas a um profissional de saúde que possa conduzir e entender a gravidade e dar a correta orientação”, frisa.
Como acontece o infarto
As doenças isquêmicas são aquelas que afetam as artérias cardíacas com o acúmulo de gordura, que bloqueia a passagem do sangue e diminui o fluxo sanguíneo no coração. Isso faz com que uma parte do órgão não receba sangue o suficiente para bombear da forma correta, e essa obstrução pode causar desde falta de ar até infartos fulminantes.
De acordo com Luiz Eduardo Ritt, cardiologista e diretor da Associação Bahiana de Medicina, os novos hábitos de vida e a rotina são os maiores motivos de infartos em pessoas mais jovens, que incluem fatores como o alto consumo de fast food e de cafeína, sedentarismo e sono desregulado, por exemplo.
Por isso, para prevenir doenças cardíacas, as melhores opções são, além de ter contato frequente com um profissional, ter sempre atenção aos fatores de risco. Segundo o cardiologista Luiz Eduardo Ritt, é essencial ter um alerta a mais se o paciente tiver familiares de primeiro grau que infartaram ainda jovens.
Apesar de ser mais frequente em pessoas idosas, o médico explica que o infarto pode ter consequências maiores nos mais novos. “O infarto no jovem é relacionado mais comumente a pequenas placas que rompem agudamente, causando obstrução total de um vaso do coração. Já no idoso, o processo de acúmulo de gordura nas artérias é crônico e o coração, por vezes, se adaptou ao longo do tempo, criando vasos colaterais que suprem áreas menos perfundidas. Quando há um infarto, essas colaterais, às vezes, conseguem suportar”, diz.
Sinais
Entre os principais sintomas do infarto no miocárdio, destacam-se dor no peito e falta de ar ao realizar esforços físicos. Além disso, são comuns também sintomas como palpitações frequentes, tontura, desmaios e inchaço nas pernas. Quem explica é Leandro Vladimir Silveira Cavalcanti, cardiologista e membro da seccional baiana da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).
“Os sintomas costumam ser progressivos e se tornarem cada vez mais frequentes e intensos e ocorrerem aos mínimos esforços, como tomar banho, pentear o cabelo ou até mesmo escovar os dentes. Nas fases mais avançadas e graves, os sintomas ocorrem em repouso e podem ser fatais. Vale ressaltar que diversos desses sintomas são comuns a outras doenças e temos visto em nossa rotina, cada vez mais frequente, a ocorrência por transtorno ansioso, vez que os sintomas podem ser semelhantes”, afirma Cavalcanti.
A Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab) foi procurada para informar os números mais recentes de mortes por infarto no estado, mas não apresentou os dados até o fechamento desta reportagem. A Secretaria Municipal de Saúde também foi procurada sobre os índices de infarto em Salvador e afirmou que a informação demanda mais tempo para ser atendida.
Tanto a Sesab quanto a SMS foram questionadas também sobre estratégias para evitar mortes causadas por infarto. Até o fechamento da reportagem, nenhuma respondeu.
Veja lista de cuidados para evitar problemas cardíacos
- Faça exercícios físicos
- Mantenha uma alimentação equilibrada, evitando excesso de sal, fast food, gorduras saturadas e carboidratos simples (como açúcar e massas)
- Evite fumar, até mesmo cigarros eletrônicos
- Durma de sete a oito horas por noite
- Mantenha contato regular com um cardiologista, sobretudo se houver histórico de infartos na família
- Meça a pressão arterial com frequência
Voz da Bahia