Por Marilene Oliveira
Em uma cidadezinha do Recôncavo Baiano havia, apenas, uma funerária para atender a demanda dos defuntos. Houve um período em que muita gente estava morrendo. Que horror! Quase toda semana morria pelo menos uma pessoa. Já acontecerem até três sepultamentos em um único dia. Para uma pequena cidade era um número estarrecedor.
Coitado do coveiro! Não tinha mais sossego. Se ausentar da cidade, só se fosse em pensamento! O seu trabalho tinha aumentado e muito. Era um subir e descer a ladeira de acesso ao cemitério. Pensou até em construir uma casinha ali mesmo, ao lado da mansão de todos nós. Às vezes, mal chagava em casa, alguém já estava batendo na sua porta, pedindo-lhe para ir cavar outra cova. Quando o solo estava úmido, ótimo para executar o serviço, mas quando demorava para chover, era um sufoco. E, assim, foi a sua rotina por muito tempo.
Como a lei da procura era superior à lei da oferta, nas suas poucas horas vagas, o coveiro já ia adiantando o serviço, cavando novas covas. As pessoas supersticiosas não estavam gostando nada disso, começaram a atribuir a razão de tantas mortes ao “agouro” do coveiro.
Se não bastasse, uma das paredes laterais do cemitério desmoronou e o local ficou aberto por um bom tempo. Muitos diziam que a porta estava aberta, chamando as pessoas. Esse fato rendeu muita conversa na pacata cidade. (mais…)