BRASIL TEM 166 FILHOS DE PRESAS VIVENDO EM PENITENCIÁRIAS

Uma geração invisível nasce e vive sob o estigma da prisão, mesmo plena de inocência. No país, 80% das presas têm filhos gerados dentro ou fora da cadeia. A realidade dessas crianças, na prisão ou fora dela, nas unidades materno-infantis ou nos abrigos, ilustra como os crimes das mães e, em muitos casos, a morosidade dos ritos da Justiça deixam sequelas nas famílias. “Muitas vezes, quando o homem é preso, a mulher é suporte. Quando a mulher é presa, a família se desfaz. A pena atinge os filhos”, sintetiza a coordenadora do Fórum dos Conselhos Penitenciários do país, Maíra Fernandes. De acordo com o Ministério da Justiça, há 166 crianças em unidades prisionais no país. O número de grávidas não é quantificado. No Rio, desde fevereiro, as grávidas que entram na prisão dividem uma cela única, no presídio Talavera Bruce, em Bangu. Elas narram detalhes da gravidez atrás das grades. É também no complexo que fica a creche, um espaço sem barras que abriga bebês e mães detentas. É comum pelo país — reconhece o Ministério da Justiça — que filhos convivam com as detentas, mas no cárcere. O governo já tem pronta a primeira política pública voltada para presas, com um capítulo sobre a relação entre mães encarceradas e seus filhos. No Talavera, são 18 mulheres, multiplicadas por dois. Compartilham dias e noites de nove dos meses mais cruciais na vida feminina: o período de gravidez. É sobre ele e os filhos que estão gerando que sete delas falam com a repórter, entre apáticas, irritadas e resignadas. As detentas confirmam, com suas histórias, as estatísticas: grande parte está presa por tentar entrar em presídios com drogas. Apenas duas estão na primeira gestação. Dados do Departamento Penitenciário Nacional (Depen) indicam que 60% foram encarceradas por crimes relacionados ao tráfico. Desde fevereiro, as presas grávidas do Rio estão reunidas no Talavera. (O Globo)