A micropigmentadora dérmica e nutricionista aposentada Maria da Conceição (70) estava em um passeio em Paris, na França, quando de repente percebeu um sangramento que há 18 anos havia sido suspenso, desde a chegada da sua menopausa. O susto foi grande e, assim que retornou a Salvador, onde mora, ela fez um checkup completo. Os exames revelaram a existência de pólipos e a biópsia confirmou a malignidade de um deles no interior do seu útero. O diagnóstico de câncer de endométrio, porém, não a abalou, como costuma acontecer com muitas pessoas que recebem este tipo de notícia. Ela enfrentou a doença com coragem e naturalidade: passou por uma videolaparoscopia para retirada do útero, trompas e ovários e hoje segue sua vida, “curada, feliz e super ativa”, como ela mesmo diz.
Ao contrário de algumas pacientes, que precisam passar por radioterapia ou quimioterapia para tratar o câncer de endométrio, que nada mais é do que o revestimento interno do útero, para D. Maria da Conceição a cirurgia foi suficiente. No caso dela, a modalidade cirúrgica utilizada foi a videolaparoscópica, tipo de procedimento em que o médico visualiza os órgãos internos por meio de pequenos cortes e inserção de uma ótica conectada a uma câmera que processa as imagens do abdome. O nome vem do aparelho utilizado na filmagem dos órgãos internos, o laparoscópio, feito com a tecnologia das fibras ópticas. “A recuperação da videolaparoscopia em geral é rápida. Como os cortes são muito pequenos, a cicatrização ocorre com mais facilidade e, além disso, o risco de infecções e o desconforto no pós-operatório é muito menor, quando comparada à cirurgia convencional aberta. Por esses motivos, uma quantidade menor de medicamentos é utilizada, tornando esse método vantajoso para a paciente”, explicou o cirurgião oncológico que operou a paciente, André Bouzas.
Segundo o especialista, que integra o Instituto Baiano de Cirurgia Robótica (IBCR), outra modalidade de tratamento do câncer de endométrio que tem sido cada vez mais explorada no Brasil e no mundo é a robótica. “Além da retirada do útero, trompas e ovários, em muitos casos faz-se necessária a remoção dos gânglios linfáticos. O acesso a esses gânglios é facilitado pela cirurgia robótica, pois com a utilização de movimentos mais delicados e precisos do robô, consegue-se uma menor taxa de conversão da cirurgia para a via aberta. Além disso, em pacientes obesas, a plataforma robótica facilita o acesso às estruturas internas corporais. O resultado de uma via minimamente invasiva, com cortes menores, trauma cirúrgico atenuado e delicadeza na manipulação dos tecidos se traduz em uma recuperação pós-operatória ainda mais rápida, menor sangramento durante a cirurgia e menores índices de complicações”, destacou.
Alerta – O câncer de endométrio é um tipo de tumor que cresce na camada interna do útero, mas que pode infiltrar a parede do órgão e se disseminar pelos gânglios linfáticos localizados ao longo de grandes vasos sanguíneos do abdômen. Qualquer sangramento vaginal em mulher que já se encontra na menopausa deve ser investigado, pois pode ser sintoma da doença. Em mulheres em idade fértil, sangramento entre os ciclos menstruais ou mais intenso que o habitual também serve de alerta. Dor pélvica, cansaço, perda de peso e de apetite podem ser outros sinais deste tipo de tumor.
A chance de desenvolvimento de câncer do corpo do útero aumenta em mulheres com mais de 50 anos. Outros fatores de risco são: predisposição genética; excesso de gordura corporal; diabetes mellitus; dietas com elevada carga glicêmica (alimentação rica em produtos processados e ultraprocessados); hiperplasia (crescimento) endometrial; falta de ovulação (deixar de ovular) crônica; uso de radiação anterior para tratamento de tumores de ovário; menopausa tardia; uso de estrogênio (hormônio feminino) para reposição hormonal após a entrada na menopausa; nuliparidade (nunca ter engravidado ou ter tido filhos); síndrome do ovário policístico e síndrome de lynch.
Engravidar, praticar atividades físicas e manter o peso corporal adequado são formas de prevenção deste câncer. “A adoção de hábitos saudáveis de vida é muito importante, mas mesmo com todo cuidado, nem sempre é possível evitar o surgimento do tumor. O mais importante é a detecção precoce, que aumenta muito as chances de sucesso do tratamento”, frisou André Bouzas. Segundo o médico do IBCR, a detecção pode ser feita por exames clínicos, laboratoriais ou radiológicos em mulheres com sinais sugestivos da doença ou por meio de exames periódicos em pessoas sem sintomas. “Este rastreamento, geralmente, é feito com integrantes de grupos com maior chance de desenvolver a doença”, completou o cirurgião oncológico.