Leopoldo Matos de Souza (foto) estava aguardando cinco irmãos e um sobrinho que moravam em São Paulo. Mas por volta das 7h30, ficou sabendo, através de um telefonema, que os irmãos morreram no acidente ocorrido na BR-110, na manhã desta segunda-feira (27), quando um trator se desprendeu de um caminhão e bateu de frente com o ônibus da empresa Gontijo, no qual a família viajava. No total, foram 13 pessoas mortas, não 14 como havia sido anunciado. 10 no local do acidente e três em um hospital. O sobrinho de Leopoldo, Andrews Campos, está entre os 24 feridos.
Segundo Leopoldo, os irmãos programaram a viagem há cerca de 30 dias. Eles moravam em São Paulo há 25 anos e seguiam para a cidade de Banzaê. “Marina Matos, Marisa Matos, Elvira Matos, Maura Matos e Amauri Matos eram meus irmãos. A Marina estava de férias e os outros decidiram vir junto com ela. Tinha uns oito meses que não via meus irmãos”, contou.
“Não tenho dúvidas de que isso foi uma bênção de Deus”. Com essa declaração, Ana Paula da Silva, de 23 anos, conta como ela e o filho de dois anos sobreviveram ao acidente. A jovem e a criança, que estava no colo dela durante a viagem, saíram ilesos após um trator se desprender de uma carreta e atingir o ônibus. Mãe e filho foram os únicos que não sofreram ferimentos com a batida.
De acordo com Ana Paula, ela estava sentada na poltrona 48, que fica no fundo do ônibus, e dormia com o filho no momento do acidente. Ela conta que acordou com o impacto da batida. “Eu estava dormindo, não vi muita coisa, mas quando acordei estava tudo destruído, bagunçado. Já tinha muita gente no chão, muitos mortos. Só tinham dois que estavam dentro do ônibus e estavam aparentemente bem. Foi uma história de terror”, conta. Ela informou que o trator atingiu até o meio do ônibus e por isso ela e o filho saíram apenas com arranhões superficiais.
A jovem estava em Belo Horizonte, Minas Gerais, na casa da irmã, e seguia para a cidade Paulo Afonso, na Bahia, onde mora. “Foi coisa de Deus mesmo. Só Deus salvou a gente”, diz aliviada. Ana Paula ainda disse que estava sozinha com o filho e não conhecia ninguém que estava no veículo.
O delegado plantonista da delegacia de Alagoinhas, José Guimarães, afirmou que foi constatado, através de perícia, que o trator estava sendo transportado desamarrado. Dessa forma, segundo ele, o motorista do caminhão, Jobson Lucas Marques, 44 anos, que transportava o trator e que está apreendido no posto da Polícia Rodoviária Federal, tem a responsabilidade criminal sobre a situação.
“Ele é um profissional de transportes de cargas, então sabe que não poderia transportar um trator imenso e extremamente pesado sobre um caminhão sem nenhuma amarração. A perícia já constatou que o trator não tinha amarração alguma. Estava solto”, afirmou.
O delegado informou que o motorista tem a responsabilidade direta, de forma dolosa, pois, segundo ele, é um acontecimento previsível, embora não desejado pelo motorista. “Ele assumiu o risco em transportar esse trator solto. Criminalmente quem responde são as pessoas diretamente ligadas à amarração, que não teve, e o motorista do caminhão. A empresa dona da carreta e do trator já seria uma questão civil de indenização”, explicou.
José Guimarães contou que ao chegar ao local do acidente, durante a manhã, encontrou o ônibus totalmente destruído e muitos corpos na pista e no acostamento. Ele recolheu a bagagem das vítimas e levou para a delegacia, para que as famílias retirem posteriormente.
O delegado Jobson Lucas Marques, que é coordenador regional da Polícia Civil de Alagoinhas, ouviu o motorista do caminhão, Jomiçon Lima Santos, que alegou que faz transporte de tratores e é contrato por várias empresas. Desta vez, ele informou que estava a serviço da empresa São Luiz da cidade de Inhambupe na Bahia.
Jomiçon contou que o tratorista colocou o trator de esteira com 35 toneladas no caminhão e que no km 322 da BR 110, o trator deslizou da prancha e colidiu com o ônibus. Ele alegou que a responsabilidade da amarração não é dele e sim da empresa, mas segundo o delegado, a polícia judiciária diz que a responsabilidade é de todos os envolvidos.
“O condutor não poderia transportar o trator sem amarração, colocando em risco a vida das pessoas. Esse caso trata-se de um dolo eventual, quando se tem a intenção de matar, com pena de oito a 20 anos”, informou.
Jamiçon foi preso e autuado em flagrante e vai ficar na carceragem da 2ª Corpim, em Alagoinhas.