Em entrevista a colunista Lu Lacerda, publicada no último domingo (19), no portal IG, a jornalista Glória Maria declarou que o próprio negro se discrimina. Glória foi a primeira repórter negra de projeção na TV e é referência no jornalismo brasileiro.
Ao ser perguntada porque os seus namorados sempre são negros ela respondeu: “Os homens negros preferem as brancas. O próprio negro se discrimina; para ele acreditar que venceu e tem status, precisa usar os valores brancos, como as suas mulheres, por exemplo. Quanto mais escura a sua pele, mais excluído você é”, disse.
Ela ainda declarou ter sido vítima de racismo por diversas vezes: “Já vivenciei todas as caras do racismo na minha vida”, disse. Em 1976, por exemplo, Glória processou um hotel (fazendo uso da Lei Afonso Arinos) depois de ter sido impedida de entrar pela porta da frente e orientada a usar o elevador dos fundos.
A jornalista também lembrou de um caso inusitado sobre sua cor da pele: “Quando estive no interior da Sérvia e fui conversar com uma velhinha, descobri que ela nunca tinha visto um preto na vida; ela não sabia que existia gente diferente dela. Sua alegria quando me descobriu foi inacreditável, percebendo a diferença e que o mundo poderia ser muito mais bonito. Ela não queria mais me deixar ir embora”, diz.
Durante a entrevista ela citou casos polêmicos recentes envolvendo o jornalista William Wack e a ministra Luislinda. Ela disse que: “A frase não é do William – é do universo. Ter dito uma frase racista não significa que ele especificamente seja racista. Convivi a vida inteira com o William e nunca percebi nele uma demonstração de racismo. Waack simplesmente teve uma reação inconsciente, que expressa o racismo. Chegou a esse ponto: uma reação inconsciente.
Esse tipo de coisa é uma piada como fazem com português. Quanto à ministra Luislinda, ela fez o que todos eles fazem: acumular cargos. Ela não pode? Seria a única? É negra e teve a “ousadia” de conseguir ser ministra. Por que nunca se falou isso dos outros? É o que eu falei no início: “é coisa de preto”. O erro é sempre negro; o acerto é sempre branco”, encerrou.