Treze anos após graduação, Ufba adota cotas em cursos de pós

Treze anos após graduação, Ufba adota cotas em cursos de pós
Ufba vai adotar sistema de cotas na pós a partir de 2017.2

A Universidade Federal da Bahia (Ufba) aprovou, unanimemente, a adoção de cotas no processo de seleção para os cursos de pós-graduação (stricto sensu). Agora, 30% das vagas serão destinadas a candidatos negros e indígenas.

Além desse número, os cursos têm que ofertar quatro vagas extras para estudantes autodeclarados quilombolas, índios aldeados, deficientes e pessoas trans (transexuais, transgêneros e travestis). A medida, aprovada pelo Conselho Acadêmico de Ensino nesta quarta-feira (11), passa a valer nas seleções do semestre 2017.2.

De acordo com o reitor de pós-graduação, Olival Freire, a Ufba adotou a medida como um esforço de valorizar a excelência do ensino e da pesquisa, buscando uma universidade que seja mais socialmente inclusiva. “A noção de cotas para negros já foi ampliada para o serviço público. É nesse contexto que a Ufba está inserida. Embora não seja muita novidade, por ser uma extensão do que já se faz, é um passo muito importante. Estamos tentando introduzir a reparação social, trazendo maior diversidade”, argumentou.

As cotas na graduação são adotadas na universidade há treze anos. Quanto à pós, a Ufba não é pioneira. A Universidade de Brasília (Unb) adotou antes. Ainda segundo Olival, as vagas extras não preenchidas, não podem ser remanejadas para ampla concorrência ou de reserva de negros.

Reivindicação
A Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen-BA), que já vinha acompanhando o debate quanto à implantação, tinha as cotas como uma reivindicação antiga. Um dos coordenadores executivos do grupo, Gilberto Leal, fez questão de lembrar a importância das ações afirmativas.

“É muito positivo para a população negra baiana. Os que questionam as costas esquecem a dívida histórica que as nações têm com a gente. Pagamos não apenas construindo um país de forma não voluntária no processo de escravidão, é preciso lembrar ainda que existia uma legislação que proibia negros na educação, então tivemos um grande atraso no conhecimento. Qualquer ação afirmativa ainda é pouco perto da dívida que o país tem conosco”, apontou.

A presidente da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), Keila Simpson, também comemorou a iniciativa. “Vemos com bons olhos todas as ações de reserva de percentual ou de vaga específica. Somos pessoas longe de conseguir exercer plenamente nossa cidadania, de transitar pela rua. Essas resoluções são importantes. Não acho que é uma conquista menor, precisamos de mais”, comentou.

Para Keila, a educação ainda precisa adotar medidas similares no ensino básico. “Precisamos de uma escola mais acolhedora, acessível, cada vez mais aberta a essa população excluída. A escola hoje não agrega, não faz com que permaneçam. É preciso aceitar as pessoas como elas se aceitam”, acrescentou.