O número de pessoas vivendo com HIV/Aids aumentou de 30 milhões para 35,3 milhões entre 2001 e 2012, segundo a Unaids – agência da ONU para assuntos relacionados à doença. O número de infecções ainda é maior em homens do que em mulheres, mas esses valores estão cada vez mais próximos. De acordo com o infectologista Celso Granato, do Fleury Medicina e Saúde, mulheres têm mais risco de contrair HIV do que os homens de maneira geral. “A mulher tem o dobro de chance de se contaminar em relação ao homem por via sexual”, diz. Dessa forma, o sexo seguro deve ser levado muito a sério e qualquer comportamento de risco deve ser acompanhado de perto. Além de fazer os exames de triagem pelo menos uma vez por ano, é necessário ficar atento a qualquer sintoma que apareça após uma possível exposição ao vírus. Confira os estágios da infecção por HIV e as particularidades que afetam mulheres:
Infecção aguda
Após a transmissão do vírus, há um período de aproximadamente 10 dias, denominado de fase eclipseG, antes que o vírus seja detectável. Durante esse tempo, o vírus é disseminado inicialmente para os linfonodos – localizados próximos ao pescoço – em número suficiente para estabelecer e manter a produção de vírus nestes tecidos. O HIV se replicando consegue então circular livremente pela corrente sanguínea, causando um pico de infecção viral por volta de três a seis semanas após a exposição.
Essa fase, chamada de infecção aguda, pode gerar uma resposta do sistema imunológico para combater a infecção, mas ela já é tardia. “Febre, mal-estar, indisposição, dor de cabeça e dor nas juntas são algumas das sensações mais comuns nesse período”, diz o infectologista Stefan Ujvari, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Esses sintomas ocorrem porque o organismo da mulher tenta combatê-lo como uma infecção viral qualquer. “Esse quadro não se complica e é autolimitado, ou seja, melhora sozinho”, lembra o especialista. Quando os sintomas iniciais desaparecem, a mulher pode passar anos sem dar qualquer sinal da doença.
Período assintomático
Essa fase é marcada pela forte interação das células de defesa com as constantes e rápidas mutações do vírus. “No entanto, isso não gera sintomas, uma vez que o organismo não fica debilitado o suficiente para ser infectado com novas doenças”, explica o infectologista Celso. Esse período, que pode durar muitos anos, é chamado de assintomático.
Sintomática inicial
Com o frequente ataque, as células de defesa tem seu funcionamento prejudicado e começam a ser destruídas. “Isso deixa o corpo cada vez mais vulnerável a doenças comuns, como gripe ou infecções”, diz o infectologista Stefan. Essa fase, chamada de sintomática inicial, é marcada pela redução da quantidade de linfócitos T CD4 no sangue. Essas são as células de defesa do organismo ativadas para combater qualquer infecção, seja por vírus ou bactérias. Os linfócitos T do subtipo CD4 são alvo preferencial do vírus HIV, que as invade para se reproduzir dentro delas e acabam por matá-las.
Os linfócitos T CD4 podem ficar abaixo de 200 unidades por mm³ de sangue em pacientes HIV, enquanto os valores de referência variam entre 800 a 1.200 unidades. “Quanto mais tempo a mulher passa sem o diagnóstico, maiores as chances de desenvolver sintomas”, explica o infectologista Celso Granato, do Fleury Medicina e Saúde. Segundo o infectologista Stefan, os sintomas de infecção por HIV se manifestam geralmente dois a dez anos após a transmissão. “Quando a mulher desenvolve os sintomas é sinal de que o vírus se replicou durante todo esse tempo e os linfócitos T CD4 começaram a diminuir”, afirma. Nesse período, os sintomas da doença podem ser emagrecimento, fraqueza, anemia, manchas na pele, diarreia, erupções e feridas na pele.
É geralmente nessa fase que o diagnóstico da doença é feito, já que a mulher começa a buscar a causa dos sintomas. O tratamento com antirretrovirais é iniciado, inibindo a multiplicação do HIV e aumentando o número de linfócitos, restaurando a imunidade.
Casos avançados
Se a doença não for tratada, o sistema imunológico fica tão comprometido que leva ao aparecimento das chamadas doenças oportunistas. O infectologista Stefan Ujvari afirma que o organismo saudável consegue combater essas infecções sem problemas, mas no paciente HIV elas se tornam doenças recorrentes e mais graves.
Esse estágio avançado da infecção que é conhecido como Aids. “Doenças como hepatites virais, pneumonia, toxoplasmose e tuberculose são comuns nessa fase”, alerta Stefan. Nas mulheres, a baixa imunidade e doenças oportunistas podem também interferir no ciclo menstrual, pois o corpo entende que está havendo alguma dificuldade e corta funções menos vitais para se preservar, como a atividade reprodutiva.
O não tratamento da doença nesse estágio tende a piorar ainda mais o quadro, causando complicações graves que podem levar à morte. Dessa forma, é muito importante fazer os exames de triagem e diagnosticar a doença o quanto antes.
HPV em evidência
Particularmente em mulheres, a Aids em estágio avançado aumenta o risco de complicações relacionadas ao HPV. De acordo com o infectologista Stefan, o retrovírus favorece o alastramento do HPV, elevando as chances de tumor relacionado, como câncer de colo do útero ou câncer de garganta. “O risco de a mulher ter uma infecção mais acentuada pelo HPV e consequentemente desenvolver um câncer é aumentado de quatro a 40 vezes.”