Modalidade que quando bem feita pode significar um orgasmo certeiro para as mulheres, o sexo oral ainda é cercado por tabus para muitos homens, que tendem a evitá-lo ou a cometer muitos erros ao praticá-lo. Para ajudar a desmistificar a prática, a educadora sexual Aline Castelo Branco, também pesquisadora do Nusex (Núcleo de Sexualidade) da Unesp (Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho), criou um curso de sexo oral para homens.
O conteúdo do curso foi desenvolvido a partir de entrevistas com cem mulheres e 50 homens. Nessas conversas, Aline identificou três perfis de comportamento equivocados: o “homem lambida de vaca” –aquele que sobe e desce a língua com movimentos rápidos–, o “furadeira” –faz bico e balança a cabeça como se estivesse procurando um buraco–, e o “sugador”, que exagera na sucção do clitóris, causando desconforto.
Além dessas classificações, Aline ainda constatou a existência do homem que se limita a chupar os grandes lábios (o ideal é usar as mãos para massagear, causando uma maior sensação, enquanto acaricia o clitóris com a boca) e o sujeito que fica só com a boca na vagina, na entrada do canal, passando a língua com movimentos rápidos, causando pouca ou nenhuma sensação.
Com duração de três horas, o curso da pesquisadora do Nusex tem uma parte teórica para ajudar os alunos a conhecerem melhor o órgão genital feminino e os pontos erógenos e uma etapa prática. Nela, os homens aprendem exercícios musculares para soltar os lábios e a língua, para trabalhar o clitóris e toda a região genital de maneira correta.
Para quem quer dar prazer a uma mulher com sexo oral, o primeiro passo é conhecer o órgão genital da parceira. Cada mulher tem um corpo diferente e sente sensações também de maneira distinta.
“A falta de conhecimento sobre a anatomia feminina, principalmente em homens mais jovens e menos experientes, acaba prejudicando o desempenho”, declara Fernanda Pauliv, professora e palestrante de artes sensuais de Curitiba.
Fernanda diz que o homem não deve ter vergonha de perguntar à mulher onde ela sente mais prazer, de que forma prefere ser tocada e com que velocidade e pressão. “Aliás, essa dica vale também para quem está começando um novo relacionamento. O que a sua antiga parceira adorava, a nova pode detestar”, afirma.
Uma ação que costuma dar certo é endurecer a língua e brincar com ela na entrada da vagina e no clitóris com pequenos e leves golpes ritmados. Usar os dedos como aliados também é uma boa alternativa, principalmente se simularem penetração vaginal ou anal.
A afobação é a inimiga número um do sexo oral. A modalidade deve ser realizada com sutileza. Não adianta fazer apenas para satisfazer a mulher, pois a prática pode e deve ser fonte de prazer também para quem está fazendo.
“Os homens precisam entender que o clitóris é sensível. Estimular com muita força ou com movimentos repetitivos pode provocar uma sensação dolorosa na mulher”, afirma Fatimah Moura, “sensual coach” e palestrante de artes sensuais de São Paulo.
Aliás, Fatimah avisa que não se deve iniciar o sexo oral estimulando diretamente o clitóris. “As mulheres preferem ser acariciadas antes. Por isso, comece beijando ou tocando as zonas erógenas: seios, mamilos, parte interna da coxa, vulva. Deixe o clitóris para o fim”, diz a “sensual coach”, que recomenda ainda o uso de lubrificantes à base de água e/ou com sabor para incrementar a prática. “Quando a lubrificação é intensa, a língua e os dedos se deslocam mais facilmente e dão mais prazer.”
Para a terapeuta sexual Carla Cecarello, fundadora da ABS (Associação Brasileira de Sexualidade), querer fazer 69 sem avisar a parceira, conduzindo-a para a posição que se deseja pode ser desagradável para algumas mulheres, assim como beijá-las na boca assim que terminar a sessão de sexo oral. Muitas se incomodam com isso.
“Outra atitude chata é ficar perguntando a cada paradinha se está bom, se ela está gostando, em vez de se concentrar e se dedicar”, fala Carla.
Fernanda Pauliv sugere prestar atenção na parceira enquanto estiver fazendo sexo oral nela: nos gemidos, nas contrações do corpo, na respiração etc. “Isso dará pistas valiosas sobre como você está se saindo e poderá ajudá-lo a excitá-la cada vez mais. Afinal esse é o objetivo, não?”, diz a expert.
Saber a hora de parar também é a chave para um sexo oral bem feito. “Depois do orgasmo, o clitóris fica muito sensível e, para muitas mulheres, o toque diretamente nele fica bastante desconfortável, acabando com a sensação do prazer recém-vivido. Então se você quiser, e sentir que ela também quer gozar outra vez, procure reiniciar mais suavemente e literalmente ‘pelas beiradas’, até sentir que pode focar novamente no órgão”, fala Fernanda.