Por: Rosemeire Cerqueira
Objetificar e sexualizar o corpo feminino para atrair a atenção do público e para vender produtos é uma arma utilizada há tempos pela publicidade e pela indústria de entretenimento que reforça de maneira indiscutível os valores patriarcais da sociedade brasileira.
O que vemos, justamente agora, quando o direito e a defesa da igualdade entre os gêneros é amplamente divulgada e discutida é a objetificação extrema da mulher.
Todos os dias assistimos corpos femininos serem vendidos como mercadoria; pernas, seios, músculos bem torneados, barrigas invejáveis, bumbuns colossais ganham a mídia de forma assombrosa e irrestrita. Além de objetificar o corpo feminino e de retratar a mulher de forma estereotipada, a mídia insiste em impor à mulher um padrão de beleza que, muitas vezes, gera discriminação, depressão, preconceitos, doenças e em alguns casos leva, até mesmo, mulheres à morte, pois em busca desse corpo perfeito (criado pela mídia), muitas recorrem a procedimentos que acabam ceifando suas vidas.
Ao ligarmos a TV, ao passarmos pelas ruas e vermos um outdoor, ao folhearmos páginas de revistas, nas redes sociais, são comuns, banais e corriqueiras as imagens de corpos femininos sexualizados, erotizados, objetificados de forma degradante. Porém, até aí tudo bem! Afinal de contas, o corpo feminino é um território colonizado e, ao longo do tempo, tornou-se uma propriedade pública. O grande problema, mulheres, acontece quando nós decidimos reivindicar nosso território (nosso corpo), tornando-o uma propriedade particular. O problema começa quando decidimos descolonizar nossas mentes e nossos corpos. O incomodo social acontece quando decidimos usar o nosso corpo para manifestar as nossas vontades, os nossos anseios e para sacias os nossos desejos não os desejos de terceiros.
O corpo feminino pode ser usado como objeto, ser erotizado e sexualizado, ser utilizado como chamariz para venda de carros, motos, cervejas, cigarros, festas, etc, Pode também ser (e de fato é) usado ao bel prazer de outros, pois não há objeção alguma. Claro, o que é bonito é para se mostrar ou, melhor dito, é para ser mostrado não pela mulher. Sim, porque quem decide o que é bonito, o que deve ser mostrado, aonde, e de que forma, obviamente não é a mulher. Quem toma essas decisões e dita as regras atualmente é uma mídia opressiva apoiada por uma sociedade machista e vice-versa.
Nosso processo de descolonização é árduo, sofrido, lento e violento. Descolonizar nossas mentes e corpos não foi, não é, nem será fácil. É uma batalha que estamos apenas começando e que durará ainda longos anos. Toda vez que nós, mulheres, decidimos sobre nossas vidas, nossos cabelos, nossos corpos, toda vez que não nos submetemos aos caprichos machistas, aos padrões de beleza estereotipados, às violências diárias estamos descolonizados nossas mentes e, consequentemente nossos corpos. Não precisamos de colonizadores nem administradores. Somos donas e senhoras de nossos corpos, de nossas vontades, desejo e de nossas vidas.