Depois da reportagem da história da Clarinha, uma paciente que foi vítima de atropelamento e está internada em coma há 15 anos no Hospital da Polícia Militar (HPM) do Espírito Santo, o Ministério Público do Estado do estado (MP-ES) recebeu, nesta segunda-feira (18), cerca de 30 ligações referentes ao caso.
Clarinha, como é chamada pela equipe médica, foi atropelada no Dia dos Namorados, em 12 de junho de 2000, no Centro de Vitória.
O local e o veículo que atropelou a mulher não são exatos, segundo a polícia. Ela foi socorrida por uma ambulância e chegou ao hospital já desacordada e sem nenhum documento.
Ministério Público
A Promotoria de Justiça Cível de Cidadania de Vitória do MP-ES informou que dentre os telefonemas, os que trazem histórias mais próximas, e que podem ter alguma ligação com a Clarinha, são de duas pessoas de Brasília e uma de São Paulo.
O órgão disse ainda que nos próximos dias serão coletadas mais informações para, de acordo com a compatibilidade das histórias, dar andamento ao processo de exame de DNA.
DNA
As pessoas que tiverem alguma pista da identidade da Clarinha devem procurar o Ministério Público por meio do Promotoria de Justiça localizada no Centro Integrado de Cidadania (Casa do Cidadão) na avenida Maruípe, 2.544, Bloco B, Itararé- ES – Vitória.
As histórias das testemunhas serão ouvidas e caso haja indícios de vínculo familiar com a Clarinha será feito o exame de DNA. O exame será feito por um laboratório particular em parceria com o MP-ES.
Casos de abandono, assim como o de Clarinha, também são encontrados em outras enfermarias. Dos 15 hospitais do Espírito Santo, a Secretaria de Estado de Saúde (Sesa) investigou quatro, onde seis pacientes aguardam em situações semelhantes.
O registro mais antigo de abandono data de dezembro de 2012, quando um homem de 54 anos chegou ao Hospital Estadual de Atenção Clínica, em Cariacica, com convulsões. Embora ele tenha identificação, nunca recebeu visitas.
No mesmo local, outros três casos foram identificados. O primeiro deles é de um homem de 57 anos internado desde agosto de 2013, que não possui contato com familiares.
O segundo é de um homem de 50 anos, que chegou ao local em julho de 2013 e recebe visitas esporádicas da família, que diz não poder acolhê-lo.
Já o terceiro é um idoso de 71 anos com sequelas de um acidente vascular cerebral. Ele está internado desde setembro de 2014, mas o sobrinho que o visita diz não ter condições de cuidar dele.
No Hospital Estadual São Lucas, em Vitória, um outro homem, internado desde agosto de 2014, recebe raras visitas de familiares, que são de outro estado e alegam ter dificuldades de removê-lo.
Enquanto isso, no Hospital Estadual Antonio Bezerra de Faria, em Vila Velha, uma idosa que chegou em janeiro de 2015 já recebeu alta, mas os filhos ainda não a buscaram. Ela fica aos cuidados de uma antiga funcionária, que se voluntaria para ajudá-la.
“É muito diferente lidar com esses pacientes, pois os funcionários ficam marcados por essas histórias. No caso dessa senhora, nós já entramos com uma ação no Ministério Público pedindo que a família assuma a sua responsabilidade”, conta a diretora do Antonio Bezerra, Rosani de Moraes Caiado.
Equipe médica da ‘Clarinha’
Clarinha está na enfermaria do HPM. Diariamente, ela recebe a visita de médicos e enfermeiros, como acontece com qualquer paciente nessas condições.
O médico tenente-coronel Jorge Potratz é o responsável pela paciente e foi ele quem escolheu o nome para Clarinha.
“A gente tinha que chamar ela de algum nome. O nome não identificada é muito complicado para se falar. Como ela é branquinha, a gente a apelidou de Clarinha”, disse Potratz.
A equipe considera o coma da pacienete elevado. “A gente classifica o coma em uma escala de três a quinze pontos. Quinze é o paciente acordado e lúcido e três é o coma mais profundo. Ela não tem nenhum contato com a gente e por isso a gente considera um coma de sete para oito”, explicou o médico.
Meu sentimento é de apego. Como se fosse quase uma filha, porque não tem ninguém por ela “
tenente-coronel Potratz, médico
Ajuda
O tenente-coronel Potratz cuida de Clarinha desde quando ela chegou ao hospital. É ele que compra, com o dinheiro do próprio bolso, o material de higiene pessoal para a paciente.
“Uma pessoa que está internada necessita de produtos básicos para poder se cuidar e se manter. Higiene pessoal, de limpeza, fraldas. Esse tipo de material eu sempre estou adquirindo para ajudar essa moça”, disse Potratz.
As demais despesas com a internação são pagas pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Cesária
A equipe médica que cuida da paciente tem esperança de encontrar algum parente ou até filho de Clarinha, já que ela tem uma cicatriz na barriga.
“Ela tem uma cicatriz de cesariana. Pode ser que ela tenha um filho que esteja vivo. Isso, realmente, marca muito a possibilidade de alguém da família identificá-la. Eu gostaria muito disso. O meu sentimento por ela é de apego. Como se fosse quase uma filha, porque não tem ninguém por ela”, disse, emocionado, o tenente-coronel.