Uma quadrilha que age no Brasil transformou dezenas de imigrantes sírios em cidadãos brasileiros, com direito a certidão de nascimento, identidade e até passaporte. Até agora, a polícia chegou ao número de 72 sírios envolvidos no esquema. A denúncia foi exibida nesta segunda-feira (14) pelo Jornal Nacional.
Ali Kamel Ismael, um sírio que vive legalmente no Brasil, era um dos que comandavam o esquema. Aos 71 anos, ele começou oferecendo pacotes de viagem para grupos de sírios no Brasil. Depois, vinha a parte dos negócios, que começavam em um cartório de registro na Zona Oeste do Rio de Janeiro.
A fraude acontecia nos livros de registros de nascimentos no cartório. Segundo a perícia, a fraude acontecia de maneira grosseira – os livros têm folhas soltas e rasuradas. Com as mudanças fraudulentas, feitas entre 2012 e 2014, os sírios passavam a ter registro como se tivessem nascido no Brasil.
A investigação mostra que o funcionário do cartório Jorge Luiz da Silva levava folhas dos livros para David dos Santos Guido, ex-funcionário – foi demitido justamente por envolvimento em outra fraude. Depois dos ajustes, Jorge recolocava as folhas.
“Eles arrancavam as folhas dos livros cartorários – são mais de 4 mil livros cartorários – arrancavam aquelas folhas originais, e o funcionário enxertava a nova folha numa certidão de nascimento naquele livro cartorário. Ou seja, deixava de existir um brasileiro nato, ou naturalizado, pra dar origem a um sírio supostamente brasileiro”, explicou o delegado Aloysio Falcão, da Delegacia de Defraudações.
Com a certidão, os sírios passavam a ter todos os direitos de qualquer brasileiro. No Detran do Rio, 51 dos 72 sírios do esquema tiraram carteiras de identidade. Já o CPF foi tirado facilmente por outros 39. Outros 52 têm títulos de eleitor. Pelo menos 20 têm passaporte brasileiro.
O esquema veio à tona quando um funcionário do Detran estranhou as informações das certidões, todas muito parecidas.
Agora, a investigação tenta descobrir onde estão os sírios. Segundo a polícia, com o passaporte brasileiro alguns viajaram por vários lugares do mundo. Dezessete sírios com documentos brasileiros fizeram pedidos para entrar nos EUA – três são ex-militares das Forças Armadas.
Ali Kamel Issmael, David dos Santos Guido, ex-funcionário do cartório, e Jorge Luiz da Silva Mota, que ainda trabalha lá, respondem ao inquérito em liberdade também por falsidade ideológica e associação criminosa. A mulher de Ali, Basema Alasmar, que falsificou os documentos, foi presa em flagrante com um passaporte brasileiro.