Confrontos no Burundi deixam 130 mortos, militares buscam suspeitos após os crimes

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Foto: JEAN PIERRE HARERIMANA / REUTERS

Desde a madrugada de sexta-feira, mais de 130 pessoas foram mortas em confrontos violentos no Burundi, país que vive mergulhado em profunda crise política. No primeiro incidente, grupos rebeldes realizaram ataques coordenados contra três campos do Exército, deixando 87 mortos, sendo oito soldados. E na manhã deste sábado, dezenas de corpos foram encontrados pelas ruas da capital, Bujumbura. É o maior episódio de violência no país desde a tentativa fracassada de um golpe, em maio deste ano.

Os combates começaram às 4h da manhã de sexta-feira, quando homens fortemente armados atacaram o campo de Ngagara e o ISCAM (Instituto Superior de Comandantes Militares), nos arredores de Bujumbura. O Conselho de Segurança da ONU condenou os ataques e exigiu “de todos os grupos armados que deponham as armas e cessem qualquer atividade desestabilizadora para acabar com o ciclo de violência e represálias”.

Durante a manhã, dezenas de jovens foram encontrados mortos espalhados por ruas de bairros de opositores do governo. Segundo testemunhas, do outro lado da cidade, partidários do regime comemoraram o massacre. Pelo menos 40 corpos foram localizados.

Moradores acusam a polícia de ter prendido os jovens ainda na sexta-feira, e de tê-los executado deliberadamente.

— Algumas dessas crianças tiveram seus rostos completamente desfigurados, enquanto em outros, o tiro entrou pela parte superior do crânio. É um horror absoluto, aqueles que fizeram isso são criminosos de guerra — criticou uma jornalista local, sob condição de anonimato.

Em Nyakabiga, no Centro de Bujumbura, testemunhas relataram ter visto 20 corpos, alguns com indícios de execução.

— A maioria dos mortos são jovens pais de família que estavam em casa, foi uma carnificina, não há outra palavra — disse, indignado, um morador da região.

Um funcionário público relatou que no bairro Musaga, contou “14 cadáveres executados por soldados e policiais”. Segundo ele, que também não quis se identificar, policiais dispararam para o ar para impedi-lo de se aproximar de um local onde estavam “muitos corpos”.

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— A maioria dos mortos é de jovens pais de família que estavam em casa, foi uma carnificina, não há outra palavra — declarou um morador da Nyakabiga.

O Burundi vive uma profunda crise política desde abril, quando o presidente, Pierre Nkurunziza, anunciou sua candidatura ao terceiro mandato, conquistado em junho. Para os opositores, isso fere a Constituição e o Acordo de Arusha, que pôs fim à guerra civil no país.

O porta-voz do exército, o coronel Gaspard Bratuza, explicou no Twitter que um balanço definitivo das operações em Bujumbura seria comunicado no decorrer do dia. (O Globo)