Aluno de Harvard cria campanha para doar barco a tribo na Amazônia

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Fotos: Arquivo pessoal 

Estudante de religião na Universidade Harvard, nos Estados Unidos, uma das mais importantes do mundo, o americano Johnny Motley, de 26 anos, criou uma campanha na internet para comprar um barco de pequeno porte motorizado para uma comunidade indígena da Amazônia.
É uma vida muito dura. Há problemas com drogas, álcool, e não há muito apoio de ninguém. Foi uma experiência muito marcante”
Motley se graduou em religião em Harvard e agora cursa o mestrado sobre o mesmo tema. Ele pesquisa as religiões nas Américas e desde 2013 teve várias passagens por tribos na Amazônia, como objeto de estudo.
“A pobreza, a falta de comida, de acesso à saúde me surpreenderam. É uma vida muito dura. Há problemas com drogas, álcool, e não há muito apoio de ninguém. Foi uma experiência muito marcante”, diz ao G1, por telefone, com seu português fluente.
Com o crowdfunding, o americano quer ajudar a comunidade de São Jorge do Rio Curicuriari, formada por 25 famílias, que vivem basicamente da pesca e do cultivo da mandioca, onde morou por três meses. Para chegar lá, o americano viajou três dias de barco pelo Rio Negro saindo de Manaus.
A meta é arrecadar 5 mil dólares para a compra de um barco pequeno, chamado de voadeira. A campanha está no ar há um mês e já atingiu a meta de 3,5 mil dólares. As doações são em dólar e podem ser feitas até dezembro. Não há valor mínimo e qualquer pessoa pode doar, basta ter um cartão de crédito internacional.
A voadeira será usada principalmente para que os índios cheguem mais rápido ao hospital. O mais próximo da aldeia fica a 100 quilômetros, na cidade de São Gabriel da Cachoeira. No entanto, hoje o acesso é feito por canoas e dura cerca de duas horas. Com o novo barco, o trajeto duraria no máximo 30 minutos.
Soube que duas crianças se queimaram com água fervente, foram socorridas, sobreviveram, mas no caso de um infarto, um aneurisma, o tempo é muito importante. A demora pode matar”

“Em caso de emergência, os índios acionam o hospital via rádio que manda um médico por barco até o local. Soube que duas crianças se queimaram com água fervente, foram socorridas, sobreviveram, mas no caso de um infarto, um aneurisma, o tempo é muito importante. A demora pode matar”, afirma Motley.
O barco também vai servir para que os índios comercializem os artesanatos e farinha de mandioca produzidas na aldeia na feira de São Gabriel da Cachoeira.
Com o dinheiro arrecadado, o americano pretende, ainda, adquirir iluminação para que o barco possa ser utilizado à noite. Também precisa arcar com a despesa do transporte até o local. Se restar alguma verba, quer ajudar a comunidade indígena que fica ao lado, a Baniwa. “Eles estão precisando de coisas básicas e gostaria de fazer algo por eles. Quero comprar bolas de futebol e brinquedos para as crianças.”

Johnny nasceu na Virgínia, nos Estados Unidos, e já teve várias passagens pelo Brasil. A primeira vez foi aos 18 anos, quando estava de férias e conheceu Jericoacoara, destino turístico no Ceará. Aos 21, fez um intercâmbio pela universidade e conheceu São Paulo e Rio de Janeiro. Depois de concluir a graduação, voltou para Jericoacoara onde passou uma temporada de oito meses trabalhando nos restaurantes da vila.
Para ele, a experiência na Amazônia foi muito rica e é lá que pretende seguir a carreira e os estudos sobre religião. “Hoje tenho muito mais qualificação. Conversei com pajés, vi rituais de curandeiros, cantos e orações para tirar doenças e fechar o corpo do mal. Culturas muito interessantes.”
O estudante conclui o mestrado em maio do ano que vem. Assim que se formar, quer voltar para a Amazônia para trabalhar em uma ONG. Brasileira ou americana. Não importa.