Sem se dar conta de duas faixas estendidas a poucos metros do palanque oficial montado no Campo Grande – pedindo intervenção militar no país e contra o comunismo (socialismo) -, o governador da Bahia, Rui Costa (PT) saiu, nesta segunda-feira, durante o desfile do 7 de Setembro, em defesa da presidente Dilma Rousseff (PT) e dos ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil) e Edinho Silva (Comunicação Social).
Na delação premiada, o empresário Ricardo Pessoa, dono da construtora UTC, disse que fez repasses milionários para as campanhas eleitorais de Mercadante e para a campanha de reeleição da presidente, da qual Edinho Silva foi tesoureiro.
O governador disse que é hora de “passar o país a limpo sem demagogias” e fazer uma reflexão sobre o financiamento privado de campanha. “Quero saber como que alguém vai separar qual é a cédula que estava suja e a qual a cédula que estava limpa”, indagou o petista, afirmando que todos os candidatos que disputaram a Presidência receberam financiamento de todas as empresas investigadas na Operação Lava Jato.
Sem hipocrisia
Ao comentar a aprovação pela Câmara dos Deputados do financiamento privado de campanha, o governador criticou os partidos – inclusive os da base, como o PMDB do vice-presidente Michel Temer -, que estão se opondo ao governo.
“Nós precisamos parar com essa hipocrisia. Votaram no Congresso se acabava ou não com o financiamento privado de campanha. Quem hoje mais acusa de corrupção votou maciçamente pela manutenção do financiamento privado, que é o cordão umbilical da corrupção”, frisou o petista.
Embora sem afirmar, o governador deu a entender que há um direcionamento nas investigações contra o PT. “A maior realizadora de obras (Odebrecht) e todas estas empresas doaram para o DEM, aqui na Bahia e no Brasil. Doaram para o PSDB, aqui na Bahia e no Brasil. Doaram para o PMDB e para o PT. Eles separavam as cédulas e diziam: este R$ 100 é de dinheiro limpo eu vou doar para o PSDB? Esse R$ 100 é de dinheiro sujo, vou doar para o PT? Isso é racional? , perguntou irritado o governador.
Rui Costa também condenou a movimentação pelo impeachment da presidente Dilma. “Qualquer governo passa por momentos de baixa. Eu espero e vou ajudar a presidenta para que ela possa retomar a iniciativa política do País”, disse o governador da Bahia.
Orçamento menor
O desfile pela Independência do Brasil, em Salvador, foi acompanhada por um grupo restrito no palanque oficial. Além do governador, o prefeito ACM Neto (DEM), o General Arthur Costa Moura, comandante da 6ª Região Militar; os presidentes dos Legislativos municipal e estadual, vereador Paulo Câmara (PSDB) e Marcelo Nilo (PDT), e alguns secretários.
A grande ausência foi o vice-governador João Leão (PP), um dos baianos investigados na Lava Jato. Indagado, o governador disse “não controlar” a agenda do seu vice.
Protagonistas na disputa pela realização de obras em encostas na Capital, o prefeito e o governador unificaram o discurso, nesta segunda, ao falar da crise na economia. Tanto Neto quanto Rui reconhecem redução no repasse de recursos federais e queda na arrecadação.
Ambos, segundo relataram, farão proposta orçamentária em 2016 com valores menores do que o orçamento em curso. Neto disse, ainda, não ter mais expectativas quanto a prazo para o recebimento de recursos (R$ 700 milhões) do PAC Mobilidade para as obras do BRT.
Rui Costa disse que o momento é de ajustes e de apertos, mas garantiu que o metrô será concluído, assim como a Fiol (Ferrovia Oeste-Leste) e o Porto Sul. disse, contudo, que 2016 não será fácil. “Vamos separar o que é essencial, emergencial, do que pode esperar um pouco mais”, afirmou ele. (A tarde)