Coluna. Linguagem: fala e escrita.

LENE MUNIZ - CLUNISTA
LENE MUNIZ – CLUNISTA

A linguagem falada difere em muitos pontos da escrita. Pelo próprio fato de ser falada; devido ás contingências de sua formulação. Ou seja, a escrita não constitui mera transcrição da fala, como muitas vezes se pensa.  Os termos da fala de diferentes locutores se encadeiam segundo um sistema de alternância. Em análise convencional, o termo da fala constitui a unidade essencial da organização das produções orais dialogadas. Diferença entre a fala e a escrita se dá dentro do continuo tipológico das práticas sociais e não na relação dicotômica de dois polos opostos.

Da mesma maneira que os textos escritos se situam próximos ao polo da fala, também existem muitos textos falados que mais se aproximam do polo da escrita formal. O texto falado apresenta-se se fazendo isto é, em sua própria gênese, tendo, pois, a pôr, a nu o próprio processo da sua construção. Assim, o texto falado não é absolutamente caótico, desestruturado, rudimentar. Ao contrário, ele tem uma estruturação que lhe é próprio, ditada pelas circunstâncias sociocognitivo da sua produção e é á luz desta deve ser escrito e avaliado.

 

Já na oralidade é comum serem os referentes recuperáveis na própria situação discursiva, assim aponta dirigir o olhar ou fazer um gesto qualquer em sua direção.  Há pistas linguísticas e extralinguísticas e que estas se encontram no cenário e no conhecimento que os participantes têm sobre o que aconteceu antes da interação. Daí o uso de formas referenciais cujos referentes são desprendidos da situação comunicativa ou do conhecimento partilhado com o interlocutor.

Entretanto, todas as nossas produções, quer orais, quer escritas, se baseiam em formas padrão relativamente estáveis de estruturação de um todo que dominamos de gêneros. E por essa razão é que Bakhtin distingue os gêneros primários dos secundários.

Segundo Bakhtin (1997) ainda ressalta que durante a sua formação, os gêneros secundários absorvem e transmutam os primários que adquirem uma característica particular. 

Partindo dessa concepção a qual os gêneros são enunciados relativamente estáveis em cuja construção entra elementos referentes ao conteúdo, composição e estilo. A atividade da fala ou da escrita sempre exigem do sujeito produtor uma forma padrão e relativamente estável de estruturação de um todo, que constitui um rico repertório dos gêneros do discurso orais e escritos. Assim as diversas práticas de linguagem podem ser relacionadas, no ensino, por meio dos gêneros visto como formas relativamente estáveis tomadas pelos enunciados em situações habituais, entidades culturais intermediariam que permitem estabilizar os elementos formais e rituais das práticas de linguagem.

As sequências textuais são formadas através de esquemas linguísticos básicos que entram na constituição dos diversos gêneros e variam menos em função das circunstâncias sociais. Cabe ao produtor escolher, dentre as sequências disponíveis, descritiva, narrativa, injuntiva, explicativa argumentativa, dialogal a que lhe parece mais adequada, tendo em vista os parâmetros da situação.

É pela comparação dos textos a que se acham expostos os falantes no meio que vivem, e pela subsequente representação na memória de tais características, que eles constroem modelos mentais tipológicos específicos.

Segundo PCNs (1998) mostram os gêneros como instrumentos que podem ajudar o ensino de leitura e de produção de textos escritos e, também orais.

As sequências narrativas apresentam uma sucessão temporal casual de eventos, ou seja, há sempre um antes e um depois, uma situação inicial e uma situação final, entre as quais ocorre algum tipo de modificação de um estado de coisas.

Sequência descritiva caracteriza-se pela apresentação de propriedades, qualidades, elementos componentes de uma entidade, sua situação no espaço. Já a sequências expositivas tem-se análise ou síntese de representações conceituais numa ordenação lógica.

As sequências injuntiva apresentam prescrições de comportamentos ou ações sequencialmente ordenados, tendo como principal marca os verbos no imperativo, infinitivo ou futuro do presente e articuladores adequados ao encadeamento sequencial das ações prescritas.

Sequências argumentativas são aquelas que apresentam uma ordenação ideológica de argumentos contra argumentos.

Todos nós conhecemos que todo o texto remete sempre a outro considerando que a intertextualidade encontra-se na base de constituição de todo e qualquer dizer. Todo o texto faz remissão a outro efetivamente já produzido e que faz parte da memória social dos leitores.

Intertextualidade explicita que se justifica ou porque o produtor considera que o leitor talvez desconheça o texto de origem e, assim sendo, quer lhe dar a informação para posterior consulta ou verificação para chamar a atenção não só para o que foi dito, como também para quem o produziu.

Voltando ao foco para formas de Intertextualidade, de fato, na atividade escrita, sempre recorremos, de forma consciente ou não, a outros textos, dependendo dos conhecimentos de textos armazenados na nossa memória e ativados na ocasião da produção do texto.

A intertextualidade na produção de gêneros escritos, intertextualidades intergêneros, um fenômeno que ocorre quando um escritor produz um gênero em um formato diferente do que é esperado, dependendo do propósito que em mente, como mencionamos anteriormente.

É fundamental no ensino da produção escrita, chamar a atenção dos alunos para o fenômeno da intertextualidade, destacando que não se trata apenas de construir relações entre textos, mas, principalmente, de modo pelo qual se constrói esse mosaico do objetivo da referência e do modo pelo qual se posiciona diante dos textos a que faz remissão levando em conta o seu propósito comunicativo.

 

Lene Muniz – colunista do PTN NEWS