Família de agricultores acusa policial civil de ameaças em disputa de terras na Bahia

O caso do policial civil Pedro Emílio, lotado na delegacia de Conceição do Almeida, que foi atacado com golpes de facão na última sexta-feira (24) na zona rural de Água Fria, ganhou novos desdobramentos após a família dos agricultores envolvidos conceder entrevista ao programa Cidade Alerta Bahia, da Record TV. No depoimento, os familiares revelaram que a briga ocorreu no contexto de um conflito fundiário, e acusaram o policial de invadir a propriedade de forma agressiva e reiterar ameaças contra os moradores.

Segundo a sobrinha dos agricultores, Simone, a disputa de terras na região já dura anos e tem colocado a vida dos moradores da comunidade em risco. Ela explicou que sua família reside na propriedade há três gerações e que constantemente sofre intimidações por parte de grileiros, entre eles um homem identificado como Nena, que estaria tentando tomar a posse da área com apoio do policial.

Simone relatou que o policial não era desconhecido da comunidade e que essa não foi a primeira vez que ele apareceu no local para ameaçar os agricultores.

“Minha avó viveu ali, minha mãe também, e hoje toda a família tem uma história ali dentro. Há anos enfrentamos tentativas de expulsão. Esse policial não é da região, ele é de Conceição do Almeida, a 140 km de distância. Não é a primeira vez que ele vem aqui, muitas vezes armado e acompanhado de seguranças, capamgas, jagunços, pra ameaçar minha família”, afirmou.

A sobrinha dos agricultores também afirmou que o policial chegou agressivo e armado, e que o vídeo divulgado na internet não mostra toda a sequência do que realmente aconteceu.

“O policial derrubou o celular do agricultor porque não queria ser filmado. Mas nós já sabíamos que um dia isso podia acontecer, por isso registramos tudo, para nos proteger. O que eles estavam segurando na mão não era uma arma, eram ferramentas de trabalho, porque estavam no campo desde cedo, fazendo o que sempre fazem”, declarou.

Desde que o caso veio à tona, a família dos agricultores tem relatado ameaças constantes, principalmente após a identidade do policial ser revelada.

“Estamos recebendo ameaças. Estão dizendo que mexemos com um policial e que agora nossa família vai pagar por isso. Mas e a segurança pública? Como ficamos? A gente teme por nossas vidas. Temos crianças pequenas na propriedade, minha filha de 9 anos está muito abalada com tudo o que está acontecendo”, lamentou Simone.

Ela também destacou que a propriedade onde ocorreu o ataque pertence à família há décadas e que não há qualquer documentação que comprove que os grileiros tenham posse legal da área.

“O governo do estado paga o salário desse policial para proteger a população, não para vir aqui armado tentar tomar nossa terra à força. Apresentei a arma dele na delegacia, e foi constatado que ela pertence ao governo. Ele estava armado. O que ele veio fazer aqui?”, questionou.

Histórico de ameaças e possível envolvimento de grileiros

Simone também denunciou que essa não foi a primeira vez que o policial esteve na área em companhia de homens armados. Segundo ela, Nena, um suposto medidor de terras, tem atuado na região há 40 anos e já tentou vender terrenos utilizando documentos de terceiros.

“Ele diz que essa fazenda pertence a ele, mas a terra é nossa por direito, pois minha família mora e trabalha nela há gerações. Eles tentaram nos expulsar à força, usando violência e armas de fogo. O policial estava armado, e isso ninguém fala”, reforçou.