Um dos maiores desafios para a vida na Estação Espacial é a questão do abastecimento de água. Afinal, são seis pessoas vivendo em uma caixa de metal a centenas de quilômetros da Terra. Missões de reabastecimento são caras, e seria completamente inviável fornecer água à tripulação apenas desse jeito. Para driblar o problema, a NASA desenvolveu nas últimas décadas técnicas avançadas de purificação da urina dos astronautas que, como a de todos nós, é composta por 95% de água, e apenas 5% de resíduos químicos do corpo. Seria um enorme desperdício não reaproveitá-la, e o resultado do processo é excelente.
“A água é a mais limpa de todas, mais limpa do que qualquer coisa que bebamos na Terra”, disse a BBC a profissional com um dos cargos mais curiosos de toda a indústria espacial: Jennifer Pruitt trabalha na NASA como engenheira-chefe para o processamento de urina. O primeiro passo do tratamento, segundo Pruitt, é adicionar alguns ingredientes ao xixi antes que o líquido entre na máquina. “Quando os astronautas usam o banheiro, nós não podemos deixar a urina passar pelo sistema por conta própria”, explica. “Temos que colocar alguns químicos extras nela para impedir que a urina quebre, e também para prevenir o crescimento de bactérias”.
Depois de passar por um sistema de bombas e tubos semelhante ao funcionamento do nosso esôfago, esse xixi espesso vai parar em um recipiente cilíndrico do tamanho de um forno doméstico com uma bomba de vácuo acoplada – ao sugar o ar, a pressão interna é diminuída, abaixando também o ponto de fervura do fluido. Desse jeito, a água pode ser separada do restante sem a necessidade de aplicar nenhum calor. O processo é, então, repetido, para que se extraia o máximo de água possível. Além do líquido puro, o outro produto é um dejeto cheio de sal, que é empacotado e acoplado no exterior das naves de suprimento, e incinerado no retorno à Terra. Por fim, para afastar as bactérias, é acrescentado iodo à água potável, o que dá a ela um leve gosto “de remédio”. “Não é ruim, você só precisa se acostumar”, diz Pruitt.
Junto do produto de um outro processo, que capta a umidade do ar proveniente principalmente do suor dos tripulantes, é possível atender boa parte da necessidade dos astronautas. E olha que a agência espacial estima que, em uma missão de um ano, cada um deles consuma em média 730 litros de água. Quanto mais eficiente for o processo, menos dependentes eles estarão das custosas missões de reabastecimento. Mas há um problema: a eficiência em órbita não está atingindo os níveis esperados. Nos laboratórios, ela atinge 85%, mas lá em cima não ultrapassa os 75%. O motivo, basicamente, é porque a urina de um astronauta no espaço é um pouquinho diferente da sua.
“No espaço, o cálcio vaza dos ossos dos astronautas e uma das coisas sobre as quais não tínhamos pensado antes era para onde esse cálcio ia”, diz Pruitt. “Nós descobrimos que muito dele sai pela urina”. Esse cálcio extra reage com os químicos adicionados antes do tratamento, formando sulfato de cálcio, um sal que, em grandes quantidades, compromete o procedimento. O resultado: foi preciso lançar mais água até lá por meio de naves de suprimentos. Para reverter o problema, a equipe de Pruitt está trabalhando em um método mais eficiente de reciclagem de urina, e nós próximos meses uma versão atualizada do sistema deve ser enviada à estação espacial, tornando os níveis de eficiência iguais aos da Terra.
G1/Galileu