Ainda na gestação, Tayler e Nick Monroe descobriram que o pequeno Owen Monroe nasceria com problemas cardíacos. Isso porque no ultrassom feito na 16ª semana de gravidez foi possível ver que o feto não estava crescendo como deveria.
Na 20ª semana foi feito outro exame que revelou um defeito de nascença no coração do menininho e havia o risco de que ele perdesse a vida.
Quando Owen nasceu, os médicos descobriram que o problema não seria resolvido com cirurgias convencionais e decidiram usar um procedimento que só havia sido realizado com sucesso em porcos. Os pais toparam e os cirurgiões transplantaram partes do coração de um doador no coração de Owen, o que salvou sua vida.
O procedimento inovador está sendo aclamado como um divisor de águas no campo da cirurgia cardíaca pediátrica e oferece esperança a milhares de bebês com defeitos cardíacos congênitos.
Hoje, o pequeno é um bebê saudável de 5 meses com a evolução normal de qualquer nenê nessa faixa etária: segura a cabeça erguida, faz contato visual e brinca com seus brinquedos.
Qual foi o diagnóstico de Owen?
O problema detectado em Owen foi o truncus arteriosus. De acordo com os CDC (Centros de Controle de Doenças) dos Estados Unidos, essa é uma condição cardíaca congênita rara que acontece quando o vaso sanguíneo que sai do coração não se desenvolve adequadamente no útero materno.
Um coração saudável tem duas artérias que saem do coração: uma que vai para o corpo e fornece sangue oxigenado ao organismo (aorta) e a outra que vai para os pulmões para obter oxigênio (artéria pulmonar).
Ao programa Today Show, da rede de televisão NBC, dos EUA, o chefe de cirurgia cardíaca pediátrica da Duke University e cirurgião de Owen Joe Turek explicou:
“Em vez de ter duas artérias que saem do coração, Owen só tinha uma artéria principal e uma válvula que saíam do coração.”
Para completar essa única artéria tinha uma válvula responsável por controlar o fluxo sanguíneo que estava vazando. “Não é uma notícia que qualquer pessoa queira ouvir”, disse o pai de Owen no mesmo programa.
Os CDC recomendam que bebês que nascem com essa condição rara passem por cirurgia nos primeiros meses para reparar o coração e os vasos sanguíneos. Mas com o vazamento da válvula de Owen não seria possível esperar nem fazer as cirurgias já conhecidas.
“Normalmente, podemos reparar esses defeitos se a válvula estiver boa. Infelizmente, no caso de Owen, sua válvula estava realmente anormal e não poderíamos consertá-la”, disse Turek ao Today.
Owen Monroe precisaria de duas novas artérias e duas novas válvulas, “basicamente, a metade superior de seu coração precisava ser substituída”, afirmou o médico.
Quando pacientes adultos precisam de partes de um coração, os cirurgiões conseguem criar artérias e válvulas de substituição a partir de tecido de pessoas mortas congelado e preservado, mas essas partes fazem a função das originais, mas não crescem, já que o tecido não está vivo.
Se a técnica for usada em bebês e crianças, não é apenas uma cirurgia e sim várias até a vida adulta, já que os pacientes crescem, se desenvolvem e os órgãos precisam acompanhar.
“Enfrentamos um dilema. Se usássemos a maneira padrão e tradicional de fazer as coisas, isso exigiria operações sucessivas e invasivas, com cada operação apresentando um risco cada vez maior”, explicou Turek.
A próxima opção seria um transplante de coração, mas o tempo de espera poderia ser de quatro a seis meses e Owen não aguentaria.
Finalmente, o cirurgião propôs outra técnica que ele e seus colegas vinham pesquisando: um transplante parcial de coração. “Isso é algo que tem sido falado por um tempo, como substituir uma parte de um coração e permitir que isso aja como se fosse nato naquele paciente, então… ele vai crescer junto com o resto do coração.”
Os pais receberam a opção, já sabendo que a cirurgia tinha sido bem-sucedida apenas em porcos. Mas, como era a única opção para Owen, eles toparam. “Eu disse: ‘Bem, o que quer que você tenha que fazer para salvar nosso filho, por favor, faça”, disse Tayler Monroe.
Embora encontrar um doador para o transplante parcial de coração levasse menos tempo do que para um transplante total, cada dia de espera era uma luta. Mas aos 17 dias de vida e pesando pouco mais de 5 quilos, apareceu um órgão compatível e Owen se tornou o primeiro receptor de transplante de coração parcial de todos os tempos.
O menininho ainda precisa tomar remédio contra rejeição para garantir que seu sistema imunológico não ataque as partes transplantadas do coração, todavia é possível que ele se livre dos medicamentos no futuro. “No momento, acho que ele pode realmente viver uma vida muito normal”, disse Turek.