Carta aos cooperados
DECISÃO DA JUSTIÇA DO TRABALHO DE VALENÇA PODE COMPROMETER EXISTÊNCIA DA MAIOR COOPARATIVA DA AGRICULTURA FAMILIAR DO ESTADO DA BAHIA A COOPATAN.
Hoje é com o sentimento de pesar e uma enorme sensação de impotência perante as injustiças que acontece no dia-dia de cada ser humano que acredita que pode fazer um mundo melhor, com o simples ato ajudar a vida do próximo. Me recordo aqui dos primeiros movimentos lá nos anos de 99 a 2000, onde inúmeros agricultores e lideranças, 44 presidentes de Associações, representando mais de 800 Produtores Rurais, não satisfeitos com os baixos preços praticados na agricultura, e a desorganização das cadeias produtivas, se uniram, para pensar e discutir seus problemas em reuniões, seminários, visitas e técnicas, enfim.
Os jovens também não se curvaram diante das circunstâncias desfavoráveis para sua realização pessoal e profissional, devido ao grande êxito rural da região na época e se uniram aos adultos, para juntos, buscarem dias melhores para suas famílias, para suas comunidades, para o município e toda região. Não seria louvável aqui citar nenhum nome, para não cometer a injustiça do esquecimento e até porque necessitaria de várias páginas para citar não apenas uma dezena, uma centena, mais milhares de pessoas, que fizeram parte dessa história e confiam que a COOPATAN seria possível. Cada Cooperado, cada colaborador, cada cliente, cada fornecedor que um dia fez ou faz parte desse sonho, também as pessoas que participaram das reuniões da concepção de ideias, mesmo que nunca tiveram vínculo direto, mas que com suas contribuições foram de igual importância nessa caminhada.
Nesse nos de 2022, em que a COOPATAN completa 22 anos de constituição com muitos serviços prestados à comunidade, em seu melhor momento de crescimento, distribuindo renda, realizando sonhos de pessoas que se firmam no campo com dignidade, combatendo o ciclo vicioso da pobreza, criando oportunidade e assim vendo a possibilidade da diminuição da criminalidade pela inclusão no trabalho e elevando o nome de nossa cidade ao lugar merecido pela força de seu povo. E é nesse momento que essa instituição formada por 366 Unidades famílias, oriundas da Agricultura familiar cooperada e 45 funcionários CLT. Recebe da Justiça do Trabalho da Comarca de Valença, uma Condenação R$: 1.950.789,28 (Um Milhão, Novecentos e Cinquenta Mil, Setecentos e Oitenta e Nove Reais e Vinte e Oito Centavos) referente ao processo trabalhista Nº 0000493-86.2017.5.05.0431, para pagamento em parcela ÚNICA conforme decisão do dia 28/07/2022, na qual determina o bloqueio e resgate do VALOR INTEGRAL e imediato de todas as contas da COOPATAN.
Com muita pesar e muito tristeza venho ao conselho de Administração da COOPATAN, apresentar para os demais membros, a triste realidade da nossa cooperativa. Como Presidente desta instituição e conhecedor das finanças da entidade, posso garantir que será muito difícil manter as operações e cumprir com todas suas obrigações financeiras após o cumprimento integral da decisão, pois a sobrevivência de centenas de pessoas entre cooperados, seus familiares e trabalhadores será seriamente impactada, vez que não haverá recursos para continuar com a produção e comercialização dos produtos do cooperado e manutenção dos empregos.
É doloroso para mim Juscelino Macedo falar desse assunto. E não vejo com razoável eu ficar à frente de uma tortura psicológica e emocional de uma condenação desse porte em que a perda de João Neto (meu irmão) então diretos executivo da cooperativa, uma das pessoas que eu mais amava na vida foi a vítima. Na Minha vida sempre adotei o discurso e a pratica que o Bem coletivo deve ser maior que nossos desejos e dores pessoais, foi com esse ESPIRITO DE SERVIR, que em 2019 voltei para COOPATAN, em um momento de dificuldades para organizar as finanças e tornar a COOPATAN a empresa que tanto eu quanto João Neto sonhávamos, foi com a missão de honrar seu nome e fazer com que o falecimento dele não tivesse impacto econômico e social na vida das pessoas. Me coloco como uma das pessoas mais próximos de João Neto enquanto vida e tenho certeza que ele não queria de jeito nenhum seu nome vinculado a esse momento. Porém sabemos que a ambição pessoal das pessoas, a ganancia pelo dinheiro muitas vezes as deixam cegas e só conseguem enxergar os seus próprios umbigos afinal são 2 Milhões de Reais. Talvez alguns falem em justiça. Mas será mesmo que estamos fazendo justiça! Desempregando, mas de 45 Pais e Mães de família, que hoje tiram seu sustento da cooperativa? Deixando 366 famílias cooperadas sem o apoio e ampara da cooperativa? Deixando a mercê da sorte dezena e centenas de pessoas hoje ligadas e beneficiários diretos e indiretos dos projetos sociais desenvolvidos no âmbito da cooperativa? Tenho sérias dúvidas.
Penso que justiça se faz melhorando a vida das pessoas, distribuindo renda e provocando o desenvolvimento delas nos seu mais diversos aspectos! Me questiono será que esta decisão está preocupada com a situação de fome e miséria que hoje atinge várias famílias e compromete sua saúde e dignidade!?
Será que vale a pena deixar alguém milionário, afinal são dois milhões de reais, que investidos terá um rendimento de aproximadamente R$ 20.000.00 mensais, (vinte mil reais) mensais. Tudo isto as custas do comprometimento de um projeto consolidado e de êxito comprovado como o projeto Cooptam!
Vale salientar que neste processo já foi pago o valor de R$ 200.000.00 (Duzentos mil reais) a título de seguro de vida, oportunidade onde também foram pagos todos os valores conforme Leis Trabalhista. Os beneficiários deste processo, recebem pensão do INSS desde o ano do trágico acidente. Para esclarecimentos também a Coopatan, se comprometeu a cumprir a sentença inicial de pagar pensão mensal até que a vítima atingisse 70 anos, ou seja até 2057.
Enfim, são muitos questionamentos, mas quero aqui encerrar esse carta que também é um desabafo e dizer, que meus 23 anos dedicados a COOPATAN desde antes da sua constituição, não foram perdidos, pois vi muitas pessoas mudarem de vida e a Coopatan contribuir de forma significativa para o desenvolvimento dessa região, ajudei a construir esse legado, mas a Coopatan foi para mim a maior faculdade, o mestrado, o doutorado, tudo que aprendi e vivi foi junto a COOPATAN, mas aprendi que a justiça nem sempre é justa, que fazer o bem nem sempre será retribuído com o bem, pelo menos aqui na terra. Encerrarei minha passagem pela COOPATAN, garantindo a cada colaborador, a cada fornecedor, a cada credor, que confiaram e mim e no Conselho que fizeram pares comigo, que honraremos cada centavo assumido e cada direito será garantido, afinal de contas esse sempre foi o princípio da COOPATAN, da garantia dos direitos dos outros e honradez de seus compromissos, e não mancharemos o nome do cooperativismo sério por uma decisão que ao meu ver lamentável, desproporcional e desarrazoada da vara do trabalho de Valença.