HOMEM PRESO PELA MORTE DE MOÏSE DIZ QUE O AGREDIU PORQUE ESTAVA COM RAIVA

Apesar de o congolês Moïse Kabagambe ter sofrido pelo menos 30 pauladas antes de morrer no último dia 24 no Quiosque Tropicália, na Barra da Tijuca, no Rio, os presos pelo crime – Fábio Pirineus, Aleson Cristiano e Brendon Silva – negaram em seus depoimentos à Polícia que a intenção deles fosse matar.

O RJ2 teve acesso aos depoimentos do trio. Em um deles, Aleson, o agressor que golpeou o imigrante com um bastão, disse que as agressões foram para “extravasar a raiva” que estava sentindo porque, segundo ele, o congolês estava “perturbando há alguns dias”.

Aleson Cristiano de Oliveira Fonseca, de 27 anos, trabalha como cozinheiro e garçom no quiosque Biruta, que fica ao lado do Tropicália, onde Moïse foi morto. O congolês, segundo Aleson, recentemente havia saído do Tropicália e para trabalhar no Biruta.

Foi Aleson que se entregou na 34ªDP (Bangu) nesta terça-feira (1º) e divulgou um vídeo dizendo que o espancamento não estava relacionado a uma dívida de Moïse ou a preconceitos contra a origem e raça do refugiado.

O garçom conta que, dias antes do crime, notou que o congolês estava diferente, consumindo mais bebida alcóolica, falando palavrões, ameaçando pessoas de agressão e insistindo para que clientes e funcionários de quiosques lhe dessem cerveja.

Aleson também afirmou que na noite do crime, por volta das 21h30, enquanto guardava cervejas para fechar o quiosque, viu Moïse pegando uma das bebidas no balcão sem pedir. O garçom, então, o repreendeu, dizendo para o congolês devolver o que havia pegado e pedindo que fosse embora, pois já tinha bebido muito.

Segundo o depoimento, depois disso, o congolês teria tentado pegar uma cerveja no Tropicália e discutido com pessoas lá. Nesse momento, foi imobilizado.

‘Extravasar a raiva’

 

Ao ver que o imigrante estava imobilizado, segundo o depoimento, o agressor “resolveu extravasar a raiva que estava sentindo; que ainda por conta da raiva que estava sentindo”, pegou o taco de baseball das mãos do vendedor de caipirinhas Fábio da Silva e o usou contra Moïse, “que ainda estava se debatendo e resistindo à imobilização de outro funcionário de um quiosque vizinho”.

Aleson também disse que sua participação no espancamento se limitou a agredir Moïse “algumas vezes com a mão e com o taco de beisebol” e que não amarrou o congolês.

No depoimento, ele ainda reconheceu que exagerou nas agressões e afirmou que ligou para o Samu para que a vítima fosse socorrida.

Advogado fala em tentativa de desqualificar congolês

 

Advogado que acompanhou a mãe de Moïse, Ivana Lay, em seu depoimento nesta terça (2), Rodrigo Mondego afirmou que existe uma tentativa de desqualificar o congolês.

“Existe uma tentativa de transformar ele na pessoa que gerou o resultado da própria morte. Falar que ele estaria alcoolizado, que estaria alterado”, pontuou.

Rodrigo Mondego, que é da Comissão de Direitos Humanos da OAB, declarou que Moïse era trabalhador e estava indo ao quiosque buscar a remuneração dele.

“Moise era trabalhador e ele era remunerado por isso. A polícia ainda tenta descobrir a motivação do crime. Mas Moïse não era uma pessoa bêbada como estão dizendo”, afirmou Mondego