O câncer de ovário é que se caracteriza pelo desenvolvimento de um tecido doente nos ovários. As mulheres têm dois ovários, um de cada lado do útero, sendo suas funções a produção de óvulos e dos hormônios sexuais femininos estrógeno e progesterona. Este tipo de câncer pode ocorrer em qualquer faixa etária, mas acomete principalmente mulheres acima de 50 anos.
O câncer de ovário tem um diagnóstico precoce dificultado devido ao fato de que as suas manifestações clínicas tornam-se aparentes nos estágios mais avançados da doença, quando já ocorreu disseminação da doença pela pelve ou abdômen superior ou mesmo para outros órgãos.
É um câncer pouco frequente, porem com alta letalidade. A maioria dos casos não é hereditária. De acordo com o INCA, são registrados no Brasil aproximadamente 5 mil casos novos por ano, sendo que 3/4 dos mesmos apresentam-se em estágios já avançados no momento do diagnóstico.
Tipos
O tipo de célula em que o câncer começa determina o tipo de câncer de ovário. Confira:
- Tumores epiteliais, que começam na fina camada de tecido que cobre o lado de fora dos ovários. Cerca de 90% dos casos são tumores epiteliais
- Tumores do estroma, que começam no tecido ovariano que contém células produtoras de hormônios. Estes tumores são geralmente diagnosticados em um estágio mais inicial do que outros tumores ovarianos. Cerca de 7% dos tumores ovarianos são do tipo estromal
- Tumores de células germinativas, que começam nas células produtoras de óvulos. Esse tipo é raro, e tende a ocorrer em mulheres mais jovens.
Causas
O câncer de ovário não tem causa completamente esclarecida. Sabe-se que se inicia a partir de mutações genéticas que alteram as características das células, tornando-as alteradas em sua capacidade de multiplicarem-se rapidamente, invadirem os tecidos vizinhos, obterem irrigação dos vasos sanguíneos vizinhos e de disseminar-se formando aglomerados celulares denominados tumores no local onde se iniciou ou formando tumores distantes do inicial chamados de metástases.
Fatores de risco
Os principais fatores de risco para o câncer de ovário incluem:
- Histórico familiar da doença: Ter uma mãe, irmã ou filha que teve câncer de ovário aumentará o risco. E se dois parentes próximos com câncer, o risco será mais elevado.
- Herança genética: o câncer pode ser causado por uma alteração genética que é passada de mãe para filha. Essas alterações ocorrem principalmente no genes BRCA 1 e BRCA 2
- Ausência de histórico de gravidez
- Início dos ciclos menstruais antes dos 12 anos
- Menopausa após os 50 anos
- Uso de terapia hormonal para tratar os sintomas da menopausa
- Tratamentos para fertilidade
- Tabagismo
- Uso de dispositivo intrauterino (DIU)
- Síndrome dos ovários policísticos.
Alguns fatores parecem estar associados à redução de riscos:
- Uso de pílula anticoncepcional. Lembramos, contudo que este fator pode estar associado a um aumento ligeiro do risco de câncer de mama e outros problemas de saúde
- Amamentação
- Laqueadura ou histerectomia.
Em caso de história familiar para câncer de ovário ou de mama, indica-se consulta com geneticista ou oncologista especializado para aprofundar as informações sobre possíveis mutações herdadas BRCA1 e BRCA2, entre outras, e seu tratamento.
Sintomas
Sintomas de Câncer de ovário
Raramente a doença causará sintomas em seu estágio inicial. No entanto, em alguns casos, eles podem aparecer. Veja:
- Aumento do volume do abdômen
- Dor abdominal ou na pelve
- Dificuldade para comer ou rápida sensação de plenitude
- Distúrbios urinários, tais como a necessidade urgente de urinar ou urinar mais frequentemente do que o habitual.
Se você tiver um ou mais destes sintomas, e isso ocorre quase diariamente por mais de duas ou três semanas, marque uma consulta médica.
Outros sintomas que afetam algumas mulheres com câncer de ovário incluem:
- Fadiga
- Indigestão
- Dor nas costas
- Dor durante o sexo
- Prisão de ventre
- Alterações do ciclo menstrual.
Mas esses sintomas também não indicam necessariamente a presença do tumor.
Diagnóstico e Exames
Buscando ajuda médica
O médico deverá ser consultado em caso de existir quaisquer sinais ou sintomas que estejam causando preocupação. Se houver histórico familiar de câncer de ovário ou de mama, estas informações devem ser passadas ao especialista. Também é importante fazer os exames ginecológicos todos os anos, a fim de rastrear qualquer problema precocemente.
Na consulta médica
Especialistas que podem diagnosticar câncer de ovário são:
- Oncologista
- Ginecologista.
Estar preparado para a consulta pode facilitar o diagnóstico e otimizar o tempo. Dessa forma, você já pode chegar à consulta com algumas informações:
- Uma lista com todos os sintomas e há quanto tempo eles apareceram
- Histórico médico, incluindo outras condições que o paciente tenha e medicamentos ou suplementos que ele tome com regularidade
- Se possível, peça para uma pessoa te acompanhar.
O médico provavelmente fará uma série de perguntas, tais como:
- Quando você começou a sentir os sintomas, e quão grave são eles?
- Seus sintomas são contínuos ou ocasionais?
- O que, se alguma coisa, parece melhorar ou piorar os sintomas?
- Você tem parentes com câncer de ovário ou de mama?
- Existem outros tipos de câncer em sua história familiar?
Também é importante levar suas dúvidas para a consulta por escrito, começando pela mais importante. Isso garante que você conseguirá respostas para todas as perguntas relevantes antes da consulta acabar. Para câncer de ovário, algumas perguntas básicas incluem:
- Qual é a causa mais provável dos meus sintomas?
- Que tipos de exame eu preciso?
- Quais são os tratamentos disponíveis, e quais os efeitos secundários que posso esperar?
- Qual é o prognóstico?
- Se eu ainda quero ter filhos, que opções estão disponíveis para mim?
- Tenho outras condições de saúde. Como posso melhor gerenciá-las juntas?
Não hesite em fazer outras perguntas, caso elas ocorram no momento da consulta.
Diagnóstico de Câncer de ovário
Provavelmente, consulta ginecológica começará com um exame pélvico:
- A parte externa de seus órgãos genitais é cuidadosamente inspecionada
- O exame pélvico se continua pela introdução de dois dedos para pelo canal vaginal e, simultaneamente, pressiona a outra mão em seu abdômen para buscar sentir o útero e ovários
- Um dispositivo (espéculo) é inserido na vagina, de modo que seja possível verificar visualmente a anomalias.
Entre os testes recomendados, estão:
- Exames de imagem, como ultrassom ou tomografia computadorizada, de seu abdome e pelve. Esses testes podem ajudar a determinar o tamanho, forma e estrutura de seus ovários
- Exame de sangue, que pode detectar se uma proteína (AC 125) se encontra na superfície de células de câncer do ovário
- Biópsia, para analisar o tecido do ovário e buscar células cancerosas.
Estadiamento do câncer de ovário
Os médicos usam os resultados da biópsia para ajudar a determinar a extensão – ou fase – de seu câncer. O estágio de seu câncer ajuda a determinar o prognóstico e as opções de tratamento:
- Estágio I: o câncer é encontrado em um ou ambos os ovários
- Estágio II: o câncer se espalhou para outras partes da pelve
- Estágio III: o câncer se espalhou para o abdômen
- Estágio IV: o câncer é encontrado fora do abdômen, como fígado.
Tratamento e Cuidados
Tratamento de Câncer de ovário
A escolha do tratamento e os resultados a longo prazo para paciente com câncer de ovário dependem do tipo e estágio do câncer. Sua idade, saúde geral, qualidade de vida e desejo de ter filhos também devem ser considerados. As principais opções de tratamento são:
Cirurgia
A cirurgia é o principal tratamento. Entre as opções de cirurgia estão:
- Histerectomia total: remove o útero e do colo do útero
- Salpingo-ooforectomia unilateral: remove um ovário e uma trompa de Falópio
- Salpingo-ooforectomia bilateral: remove os ovários e as duas trompas de falópio.
A busca por gestações após câncer de ovário diagnosticado em estágio inicial deve ser discutida com seu médico, já que a orientação varia caso a caso.
Buscar oncologistas ginecológicos experientes irá ajudá-la a obter o melhor tratamento possível e viver mais tempo. Os efeitos colaterais da sua cirurgia podem incluir problemas urinários ou intestinais, como obstipação ou diarreia. Sua capacidade de ter ou desfrutar de relações sexuais também pode ser afetada. Se os ovários são removidos, você pode ter os sintomas da menopausa.
Quimioterapia
A quimioterapia é utilizada para diminuir o crescimento do tumor ou destruí-lo em muitos casos. A quimioterapia é recomendada para a maioria dos casos após a cirurgia inicial. Mas às vezes a quimioterapia é dada para reduzir o câncer antes da cirurgia. O número de ciclos de tratamento vai depender da fase da sua doença.
Medicamentos de quimioterapia para o câncer de ovário podem ser tomado por via oral, intravenosa (IV) ou através de um tubo introduzido no abdômen por onde será administrada a quimioterapia diretamente no peritônio (quimioterapia intraperitoneal, ou IP). Às vezes, os tratamentos podem ser combinados.
Alguns dos medicamentos quimioterápicos utilizados no tratamento incluem:
- Carboplatina
- Cisplatina
- Paclitaxel
- Docetaxel.
Outros medicamentos que podem ser utilizados incluem:
- Ciclofosfamida
- Doxorrubicina
- Gemcitabina
- Topotecano
- Oxaliplatina.
O tratamento para câncer de ovário com quimioterapia pode causar náuseas e vômitos. Para ajudar a aliviar náuseas, o seu médico irá prescrever alguns medicamentos.
Fazer dois tipos de quimioterapia muitas vezes provoca efeitos secundários mais graves do que ter apenas IV ou IP. Os efeitos colaterais incluem dor de barriga, dor do nervo (neuropatia) e problemas renais ou hepáticos.
Radioterapia
A radioterapia para câncer de ovário usa raios-X de alta energia para matar células cancerosas e encolher tumores. Não é muito usado para tratar esse tipo de tumor. É usado um aparelho que destina a radiação na área em que as células cancerosas são encontradas. Há também a radioterpaia interna, que utiliza agulhas, sementes, fios, ou cateteres que contêm materiais radioactivos colocados perto dos ovários ou no interior do corpo.
Os efeitos colaterais da radiação podem incluir náuseas, vômitos, diarreia, dor ou desconforto ao urinar e inflamação da bexiga e cicatrizes. Também pode haver um aumento no risco de infecções.
Casos mais avançados podem ser tratados inicialmente com radioterapia.
Medicina personalizada
A medicina personalizada é uma técnica que procura características próprias do paciente que podem influenciar no tratamento. No caso de um câncer, como o câncer de ovário, câncer de ovário, ela analisa o tumor e as mutações no DNA do paciente para buscarem tratamentos mais eficazes. Quando o tratamento não é personalizado, há um risco maior do paciente não reagir adequadamente aos medicamentos ou quimioterápicos, apresentando uma resposta menor do que o esperado e, em algumas situações, até efeitos colaterais reduzidos.
Os genes mais importantes dentro da medicina personalizada para câncer de ovário são o BRCA 1 e BRCA 2. Hoje os médicos já sabem que tumores com essa mutação genética reagem de forma diferente ao tratamento quimioterápico ou mesmo com medicamentos específicos. Como esse tumor tem um erro de reparo específico, medicamentos inibidores de PARP tem se mostrado muito promissores nesse tratamento.
Outros tratamentos
As pessoas às vezes usam terapias complementares, juntamente com o tratamento médico, para ajudar a aliviar os sintomas e efeitos colaterais dos tratamentos de câncer. Algumas das terapias complementares que podem ser úteis incluem:
- A acupuntura para aliviar a dor
- Meditação ou yoga para aliviar o estresse
- Massagem e biofeedback para reduzir a dor e aliviar a tensão
- Exercícios de respiração para relaxar.
Estes tratamentos de corpo-mente podem ajudar você a lidar mais facilmente com o tratamento. Eles também podem reduzir a dor crônica nas costas, dores articulares, dores de cabeça e dor de tratamentos.
Antes de tentar uma terapia complementar, converse com seu médico ou médica sobre o valor possível e potenciais efeitos colaterais. Avise se você já estiver usando qualquer uma dessas terapias. Eles não são destinados a tomar o lugar do tratamento médico padrão.
Convivendo (prognóstico)
Convivendo/ Prognóstico
Os efeitos colaterais do tratamento do câncer de ovário podem ser graves. O seu médico pode dar medicamentos para ajudá-lo com alguns efeitos colaterais. Hábitos saudáveis, tais como ter uma dieta equilibrada, dormir o suficiente e fazer exercícios pode ajudar-controlar os seus sintomas. Tratamento que podem ser feitos em casa:
- Para náuseas ou vómitos, tais como gengibre ou chá de hortelã
- Para diarreia, tais como hidratação e dieta leve
- Para a constipação, tais como a abundância de água e fibras em sua dieta. Não use um laxante sem primeiro falar com o seu médico ou médica.
Outras questões que podem ser tratadas em casa incluem:
- Problemas do sono: Se você tiver problemas para dormir, tente ter um horário regular para relaxar, além de fazer exercício diariamente.
- Cansaço: Se você não tem energia ou se cansa facilmente, tente gerir a sua energia e obter um descanso extra.
- Queda de cabelo: A perda de cabelo pode ser inevitável, mas o uso de xampus suaves e evitando produtos para cabelos prejudiciais irá reduzir a irritação do couro cabeludo.
- Dor: tratamento em casa pode ajudá-lo a controlar a dor. Certifique-se de conversar com seu médico sobre qualquer tratamento em casa que você usa.
Busque apoio
Ter câncer pode ser muito estressante, e pode ser esmagador enfrentar os desafios. Encontrar novas maneiras de lidar com os sintomas de estresse pode melhorar sua qualidade de vida global. Essas ideias podem ajudar:
- Obtenha o apoio que precisa. Passe tempo com pessoas que se preocupam com você, permita que elas te ajudem e cuidem de você
- Cuide bem de si. Descanse bastante, e comer alimentos nutritivos.
- Fale sobre seus sentimentos. Encontre um grupo de apoio, onde você pode compartilhar sua experiência.
- Experimente novas maneiras de relaxar. Técnicas de redução de estresse podem ajudar.
Complicações possíveis
O câncer de ovário muitas vezes se espalha cedo. Como cresce nos tecidos que cobrem os ovários, pode se espalhar facilmente dentro da cavidade abdominal para os intestinos e bexiga ou o revestimento peritoneal. A partir daí podem disseminar-se para outros órgãos no corpo, tais como o fígado ou pulmões, criando metástases. Além disso, pode haver acúmulo de líquido no abdome (ascite) e obstrução intestinal.
Prevenção
Prevenção
Não há nenhuma maneira de prevenir o câncer de ovário. Mas alguns fatores estão associados com menor risco:
- Uso de contraceptivos orais
- Gravidez anterior
- Amamentação.
Além disso, se houver histórico familiar de câncer de ovário, sugere-se o exame genético de BRCA 1 e de BRCA 2. Nesse exame genético, será verificado se há mutações que possam aumentar o risco de câncer. Em caso positivo, o oncologista discutirá com o paciente sobre medidas preventivas para que esse câncer e o câncer de mama não se desenvolvam. Entre essas medidas encontramos:
- Combate ou prevenção à obesidade, já que o processo inflamatório da doença está ligado a diversos tipos de câncer
- Atividades físicas, que também reduzem o risco de diversos tipos de câncer
- Redução alimentos com corantes, espessantes, conservantes e outros aditivos, além de reduzir os defumados
- Abandono do cigarro (se a pessoa tiver esse hábito)
- Redução da ingestão de álcool.
Além disso, existe a opção da retirada preventiva dos ovários, uma cirurgia chamada de ooforectomia preventiva, contudo ela é muito controversa no meio médico, já que a possibilidade de desenvolvimento do câncer em que apresenta o BRCA1 ou 2 positivo não é de 100%. Outro ponto é que essa cirurgia, por afetar diretamente a fertilidade da mulher e a produção de seus hormônios, precisa ser muito bem pensada e conversada com o médico.
Referências
Revisado por: Paulo Miranda, ginecologista do Hospital Santa Luzia, em Brasília
Solange Moraes Sanches, médica oncologista do AC Camargo Cancer Center
Associação de Ginecologista e Obstetrícia do Estado de São Paulo
Federação Brasileira das Associações de Ginecologista e Obstetrícia