Nos últimos dias, uma notícia de uma aluna em Inhumas, região Metropolitana de Goiânia, que treinava musculação orientada por um falso personal trainer, ganhou repercussão nas redes sociais, uma vez que ela foi parar na Unidade de Terapia Intensiva com um quadro de rabdomiólise, uma doença que afeta os rins. Mas, afinal, qual a relação?
“A suspeita é de que o falso profissional teria pressionado a aluna a praticar exercícios pesados e de forma errada. Treinos exagerados com cargas altas e execuções erradas podem causar destruição das fibras musculares. Conforme ocorre esse dano, diversas substâncias são secretadas na corrente sanguínea, entre elas uma proteína chamada de mioglobina, que pode danificar os rins”, afirma Caroline Reigada, médica nefrologista, especialista em Medicina Interna pela Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e em Nefrologia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
“O reconhecimento e o tratamento imediatos da rabdomiólise são vitais, já que a doença grave pode estar associada a risco de morte por lesão renal aguda e desequilíbrios eletrolíticos”, acrescenta a nefrologista.
Dores abdominais fortes
A aluna contou que sentiu fortes dores abdominais após os exercícios. Esse é um dos principais sintomas, que ainda incluem: fraqueza muscular, dor muscular e urina marrom-avermelhada. Segundo a médica, os músculos mais afetados são aqueles que fazem parte do grupo dos músculos esqueléticos, presentes em todo o corpo e responsáveis pela postura e pelo movimento.
“Além do exercício físico intenso e exacerbado, outras causas para a rabdomiólise incluem: grandes traumas musculares, como os que acontecem em um acidente de carro ou quando membros são esmagados; abuso de álcool e drogas, especialmente cocaína e heroína; uso de medicamentos, como estatinas, por longos períodos de tempo; infecções como as que são causadas por vírus; doenças já existentes que afetam os músculos”, diz a médica.
Como é feito o diagnóstico
Caroline Reigada explica que o diagnóstico da rabdomiólise é confirmado por meio de exames de sangue e de urina que confirmam os níveis de eletrólitos circulando no corpo, que são indicadores da dissolução dos músculos.
“Devemos ficar especialmente atento aos indicadores de saúde dos rins em um paciente com a rabdomiólise, uma vez que os componentes musculares em excesso na corrente sanguínea podem desencadear vários problemas renais”, diz ela.
“Outro exame laboratorial corroborante é a presença de mioglobina na urina, particularmente se o exame microscópico da urina não mostrar eritrócitos. Detecta-se mioglobinúria quando a mioglobina urinária excede 250 mcg/mL. Outras características laboratoriais são um aumento rápido nos níveis séricos de creatinina, hipercalemia, hiperuricemia, hipocalcemia ou hipercalcemia, hiperfosfatemia, acidose láctica e trombocitopenia”, diz a médica.
Tratamento para as complicações
A médica diz que o manejo da doença inclui terapia de suporte, tratamento da causa subjacente e das complicações.
“A terapia de suporte inclui expansão intravascular com líquidos para prevenir lesão renal aguda e ventilação mecânica nos casos de insuficiência respiratória aguda. É indicado também tratar as infecções com os antimicrobianos apropriados. Quaisquer fármacos potencialmente causadores (estatinas por exemplo) são interrompidos. E deve-se, também, corrigir os distúrbios eletrolíticos”, explica a médica.
Lesão renal aguda, se houver, deve ser tratada com líquidos intravenosos e, em alguns casos, hemodiálise, segundo a médica.
Por fim, a nefrologista lembra que a musculação não é um vilão e o exercício físico faz bem aos rins de forma geral, quando bem orientado e sem excessos.
“Para evitar esses casos, nos treinamentos de força, é indicada a progressão de carga gradual, evitando aumento abruptos de peso e de volume de treino”, finaliza.