‘Ele queria ter controle sobre e-mails, Facebook, telefone, tudo’, diz vítima

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Em depoimento ao G1, a estudante de psicologia Clarice*, de 24 anos, conta que viveu um relacionamento abusivo por quase quatro anos. Ela foi vítima de abuso sexual e de gaslighting, um tipo de violência psicológica em que o agressor apresenta fatos e informações falsas e faz a vítima duvidar da própria memória e percepção. A jovem de Natal diz que romper o silêncio a ajuda a quebrar a última ligação que tinha com algo que a fez tão mal. Leia abaixo:

“Nós brigamos muito. Ele sempre gritava e, muitas vezes, me empurrava. Já brigamos porque eu fui para a faculdade com uma saia que ele considerava inadequada. Já brigamos no meio de um bar porque ele achou que eu estava dando mole para o garçom. Já brigamos porque eu recebi a visita de um amigo de infância à noite. Já brigamos porque eu publiquei na internet uma opinião que era diferente da dele. Ele queria ter controle sobre tudo, inclusive e-mails, Facebook, telefone. Se eu ia para a aula sem celular, ele se descontrolava a ponto de eu implorar por perdão. Me sentia sufocada.

Eu era sempre manipulada e ficava confusa, sem saber o que era real e o que era mentira. Ele jurava, por exemplo, que tinha me ligado me chamando para jantar, que eu tinha concordado e que já deveria estar pronta. Depois do meu desespero por não conseguir me lembrar, ele confirmava que tinha inventado a conversa.

E a culpa por tudo era sempre minha. Uma vez fomos a uma festa e tivemos que sair mais cedo, porque ele ficou com ciúmes. Ao tirar o carro do estacionamento, ele bateu em um outro carro. E me convenceu de que a culpa era minha. Eu até ajudei a pagar pelo prejuízo.

Mas meu ex também me prendia. Eu vivia uma situação difícil na casa do meu pai. E ele sabia disso. Não por acaso, as brigas eram intercaladas por dias de paz em que ele prometia que ia cuidar de mim e resolver meus problemas.