No Brasil, 15,2 milhões vivem abaixo da linha da extrema pobreza, diz IBGE

O IBGE identificou uma consequência triste da crise econômica de que o brasil tenta se livrar há quatro anos. Em 2017, aumentou o número de cidadãos em situação de pobreza e de extrema pobreza.

Elas acordam todos os dias às 4h para chegar ao trabalho. Sandra e Cida já foram domésticas, mas com a crise perderam os empregos. Agora, o sustento vem do que a sociedade não quer mais.

A recicladora Sandra Marques cuida sozinha de quatro filhos com o que ganha na cooperativa de reciclagem.

“R$ 310. Pensa bem”.

Maria Aparecida Fortunado, a Cida, outra recicladora, também têm filhos pequenos: três.

“Para tirar um dinheiro bom tem que ralar muito, tem que pedir muito a Deus para vir um material bom”.

As vidas de Sandra, Cida e de milhões de brasileiros de todas as regiões do país estão – de alguma forma – em 150 páginas. O IBGE pesquisou mercado de trabalho, educação, moradia e distribuição de renda para fazer uma espécie de fotografia da qualidade de vida dos brasileiros e confirmou o que a gente já vê por aí: o Brasil ainda é um país profundamente desigual e a pobreza cresceu.

No cálculo, o IBGE utiliza a linha proposta pelo Banco Mundial, que considera pobre quem tem rendimento de até US$ 5,50 por dia – em 2017, R$ 406 por mês.

Entre 2016 e 2017, a proporção de pessoas pobres no Brasil subiu de 25,7% para 26,5% da população, um aumento de dois milhões. Agora, são quase 55 milhões de brasileiros passando por todo tipo de privação.

Quando a gente concentra o olhar nas regiões, fica claro que o Sul tem o menor índice. Mas as regiões Norte e Nordeste têm mais de 40% da população vivendo com, no máximo, R$ 406 por mês.

No Piauí, dona Francisca mora numa casa com mais quatro parentes. O sonho dela é tão simples: ter um banheiro.

“Os meninos vão pro mato. E eu compro aquelas sacolinhas velhas de lixo. Aí faço. É o jeito. Se eu tivesse condição, eu já tinha o meu banheiro completo”.

Mas dentro do grupo de quase 55 milhões de pobres, há uma parcela de 15,2 milhões de pessoas vivendo abaixo da linha da extrema pobreza. A renda é inferior a US$ 1,90 por dia. Em 2017, o equivalente a R$ 140 por mês.

De um ano para outro o índice passou de 6,6% para 7,4% da população.

O IBGE também fez um outro cálculo: o Brasil precisaria gastar R$ 10,2 bilhões por mês para erradicar a pobreza e R$ 1,2 bilhão para acabar com a extrema pobreza.

“Durante esse período de crise econômica a gente viu um aumento da taxa de desemprego, assim como também o aumento da informalidade. Isso tudo combinado deve ter explicado uma boa parte desse aumento de pobreza que a gente observou aí entre estes dois anos”, disse Miguel Nathan Foguel, pesquisador do Ipea.

No Brasil, a pobreza expõe a concentração de riqueza. Os 10% mais ricos acumulam 43% do total de recursos. Na outra ponta, os 40% mais pobres detêm apenas 12% do total. Os pretos e os pardos são maioria nesse grupo.

Na contabilidade do impossível, a Sandra dá a receita para continuar vivendo.

“Eu envergo, mas não quebrou. Estou aqui firme e forte. Guerreiríssima”.