Nenhum baiano alcançou nota máxima na redação do Enem de 2018

Qual estudante não sonha com uma nota 1000 no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem)? Ela tem peso máximo para todo mundo que participa da avaliação, independentemente do curso escolhido. Em 2018, nenhum baiano conseguiu a façanha de atingir a nota máxima na prova de Redação – apenas 55 entre os 4,1 milhões de alunos alcançaram o feito, dois a mais do que foi registrado em 2017. 

Para o professor de Redação Neldo Neto, alguns fatores podem justificar a ausência de baianos com nota 1000. Um dos principais é o período de transição que a prova tem passado. Para o especialista, houve mudanças na banca de avaliação e, também, no quadro de elaboradores dos temas propostos.

Ele percebeu isso quando seus alunos sinalizaram que sentiram dificuldade para escrever uma dissertação sobre o tema, que, no ano passado, foi “Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet”.

“A última prova exigiu uma dissertação um pouco mais específica e os alunos sentiram mais dificuldade”, aponta o professor.

Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), apesar da pouca quantidade de notas máximas, cerca de 81 mil alunos conseguiram tirar entre 900 e mil pontos, o que Neldo Neto acredita ser um ponto a ser levado em consideração. Além disso, ele é enfático ao afirmar que nota 1000 na Redação não deve ser a “régua-final” para a qualidade do texto.  As mulheres representam 76% das notas 1000 na redação do Enem

“A partir de 700 pontos já se considera que a Redação é boa e a nota é alta. Essa nota mil acaba inferiorizando muitos alunos e isso pode representar até um desestímulo para alguns estudantes”, avalia.

Neldo Neto afirmou ainda que é injusto esperar que alunos, principalmente que cursam o ensino médio, sejam “perfeitos” e chega a classificar a avaliação da banca como “cruel” e “responsável por tornar a disciplina de Redação um bicho de sete cabeças”. Um sintoma desse medo da Redação, segundo Neto, é a quantidade de cursos particulares e específicos da disciplina, para além do colégio ou cursinho pré-vestibular.

Ele diz ainda que existe uma tensão criada em torno da prova dissertativa, o que atrapalha o desempenho dos alunos, já que é a única parte do Enem com teor subjetivo.

“O sistema de correção não se esforça muito para dar notas máximas. É muito discrepante a relação entre o número de pessoas que fizeram a prova e o número de redações com nível muito bom”, avalia Neldo Neto.

No mercado há mais de 10 anos, o também professor de Redação Léo Mendes aponta que é cedo para ter um diagnóstico definitivo sobre o desempenho dos alunos baianos no último Enem. Segundo Mendes, existem apenas suspeitas do que pode ter acontecido. 

Além disso, o professor desconfia que o tema foi um grande complicador em 2018. Ele explica que, apesar do uso e controle de dados ser um tema corriqueiro no dia-a-dia, os alunos podem ter se distanciado daquilo que a banca supostamente esperava dos redatores: uma discussão mais ampla sobre o controle de dados e não apenas um debate sobre as famosas fake news.

“Fui pego de surpresa com a notícia de que nenhum aluno (baiano) tirou a nota máxima. Principalmente porque, em outros anos, tivemos casos de alunos que alcançaram a nota 1000 aqui no estado”, revela Léo Mendes.

Notas zero
De acordo com o Inep, o número de redações zeradas no Enem 2018 diminuiu. Em todo o Brasil, foram 112.559, o que representa 2,73% do total de provas corrigidas. No Enem de 2017, cujo tema foi “Desafio para a formação educacional de surdos no Brasil”, 309.157 alunos não pontuaram. 

Ainda segundo o Inep, os principais motivos para os aluno terem zerado a redação do exame em 2018 foram redações em branco (1,12%); fuga do tema (0,77%); e cópia do texto motivador (0,36%).

O órgão não possui o dado de quantos alunos tiraram nota zero nos estados, disponibilizando apenas o total no Brasil.

*Sob supervisão da subeditora Fernanda Varela