De acordo com Eduardo Costa Pinto, professor de economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), o lucro da Petrobras cresce para além das demais, dado que a receita, oriunda da venda de combustíveis, sobe mais rapidamente que os custos da companhia na extração no pré-sal.
“Pela receita, como a Petrobras mantém o Preço de Paridade Internacional (PPI), ela maximiza o lucro porque cobra o preço máximo possível [dos combustíveis]. E como ela faz isso? Acompanhando os níveis internacionais, com frete e imposto, e vendendo pelo preço de monopólio”, disse.
“Por outro lado, há uma redução dos custos ao longo dos últimos anos, principalmente na extração do petróleo. Hoje o custo está em torno de US$ 30 o barril. Portanto, com o petróleo em alta [o barril estava cotado em cerca de US$ 123 na terça-feira, 14/6], o lucro sobe”, afirmou.
Maior margem de lucro e distribuição a acionistas
Além da margem de lucro acima das concorrentes, a Petrobras ainda opta por distribuir mais dividendos para os acionistas que as demais. Segundo Costa Pinto, no primeiro trimestre deste ano a estatal brasileira distribuiu US$ 10,2 bilhões, cerca de quatro vezes a média das petroleiras internacionais, que ficou em US$ 2,5 bilhões.
De acordo com Vitor Polli, analista de Oil & Gas da Levante Corp, os dividendos da Petrobras são maiores porque algumas petrolíferas ainda reportam prejuízos no balanço pela saída da Rússia após o início da guerra com a Ucrânia. Também optam por investir a maioria do montante na própria empresa, buscando alternativas ao petróleo.
“Algumas companhias tiveram que realizar manobras contábeis, principalmente a Shell, por causa da saída do mercado russo, o que causa um efeito no resultado, e o lucro é menor por causa disso”, afirmou.
“Além disso, os recursos de algumas delas estão sendo utilizados para investir em energias renováveis, como painéis solares e energia eólica [vento], visando a transição energética. As grandes petroleiras já estão buscando essa variação da matriz energética pois se espera uma redução no uso do petróleo no longo prazo”, disse o analista.
Empresa não pensa no longo prazo, diz analista
Segundo Costa Pinto, uma distribuição tão grande de dividendos faz com que a empresa deixe de pensar no longo prazo, principalmente em relação a alternativas ao petróleo.
“O problema é que a empresa tem que ser pensada no curto, médio e longo prazo. Poderiam pensar em transição energética para garantir lucros no futuro. Hoje o pré-sal é uma grande vaca leiteira. Mas, se eu não invisto agora, não tenho capacidade de transformar oportunidades em vacas leiteiras”, afirmou.
Petrobras diz que ganhos voltam à sociedade
Procurada, a Petrobras informou que “assim como as demais empresas de petróleo e gás, apresentou resultados positivos no primeiro trimestre de 2022, refletindo a alta do preço do petróleo no mercado global”.
A estatal também informou que “os resultados alcançados pela Petrobras também retornam à sociedade por meio do pagamento de tributos. No primeiro trimestre de 2022, foram pagos quase R$ 70 bilhões em impostos, royalties e participações governamentais. Esse valor é quase o dobro do total recolhido no mesmo período do ano passado”.